domingo, dezembro 30, 2007

Nip/Tuck

Sexo. Sedução. Lipoaspiração. Pode encontrar tudo isto em Nip/Tuck, uma série destemida e galardoada que pode não ser uma das séries da moda mas é, sem dúvida, uma das séries do momento.
Nip/Tuck explora o lado obscuro das cirurgias plásticas, o doloroso e, por vezes, violento caminho que leva as pessoas a procurar a beleza exterior.
Sean McNamara e Christian Troy são dois cirurgiões plásticos de sucesso em Miami, forçados a enfrentar crises de meia-idade em que se misturam problemas familiares, profissionais e amorosos. Enquanto Christian parece adorar o seu estatuto de homem bem sucedido e todas as mulheres que este lhe proporciona, Sean sente que os anos que dedicou intensamente ao trabalho lhe custaram o distanciamento da sua mulher e filhos. Embora pareça à partida ambientada num mundo desinteressante, Nip/Tuck é uma das séries de maior impacto do momento. Ambição, mentiras, sexo, são alguns dos ingredientes que desta série que nos mostra a complexidade e a insegurança do mundo da cirugia plástica, através de histórias e episódios muito arriscados e uma estética nunca vista, revelando-nos de forma dramática a complexa e frágil natureza humana de certos pacientes que tentam mascarar as suas debilidades psicológicas graças a modificações no seu aspecto físico.
Esta provocante série é uma das mais elogiadas pela crítica americana e conquistou um Globo de Ouro para a Melhor Série Dramática e vários Emmys.
Se ainda não conhecem, espreitem porque vale a pena. Eu já vou na 4ª temporada...
Saudações de um Comparsa

terça-feira, novembro 27, 2007

Instrumentos Musicais: A Harpa

"Ser Músico é trabalhar o instrumento todos os dias, é pôr-se permanentemente em questão, é duvidar. É a instabilidade feita estabilidade. Um dia encontra-se, mas no dia seguinte é preciso voltar a procurar. Há conquistas mas nada é definitivo. A música é um fantástico instrumento de trabalho sobre nós próprios. Muito exigente, mas que dá prazer!"

Sophia Domancich


Caros Comparsas

Dando continuidade a este entusiasmante novo tipo de voo, acho pertinente clarificar-vos sobre o significado de alguns termos que serão frequentemente usados:
  • Caixa de Ressonância - Câmara cheia de ar, com formatos variados que serve principalmente para reforçar a intensidade sonora;
  • Altura Definida ou Determinada - Significa que as sons desses instrumentos poderão ser sempre afinados de acordo com as escalas musicais predefinidas e representar as notas comuns;
  • Altura Indefinida ou Indeterminada- Significa que os sons desse instrumento não podem ser afinados, nem representar as notas comuns (Dó, Ré etc...), limitando-se, numa partitura, à representação de figuras rítmicas;
Já agora, recordo o sistema de classificação dos instrumentos criado por Hornbostel e Sachs :
  • Idiofones - Instrumentos cujo som é produzido pelo próprio corpo do instrumento. É o próprio corpo do instrumento que vibra para produzir o som, sem a necessidade de nenhuma tensão( Engloba alguns instrumentos de percussão de altura indefinida e todos os de percussão de altura definida.)
  • Membrafones - Instrumentos cujo som é produzido por uma membrana esticada, ou seja, produzem som através da vibração dessa mesma membrana( Engloba só instrumentos de percussão de altura indefinida).
  • Aerofones - Instrumentos cujo som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no (ou pelo) instrumento ( Engloba todos os instrumentos de sopro, a voz humana e os órgãos de tubos).
  • Cordofones - Instrumento cujo som é produzido pela vibração de uma corda tensionada( Engloba todos os instrumentos de cordas friccionadas, dedilhadas e percutidas).
  • Electrofones - Instrumento cujo som é produzido a partir da variação de intensidade de um campo electromagnético, ou seja, o som é produzido por meios mecânicos e depois amplificado e/ou modificado electronicamente ( Engloba todos os instrumentos electrónicos e electromecânicos.
II - HARPA
Harpa é um nome genérico que se dá a todos os cordofones que possuem as cordas num plano perpendicular ao do tampo da caixa da ressonância.
Tratando-se de um dos instrumentos mais antigos do mundo, existem duas categorias: as harpas de caixilho e as harpas abertas, cuja grande diferença é a existência de um pilar ou coluna nas harpas de caixilho que liga a área da caixa de ressonância à consola; as harpas abertas não possuem a coluna, portanto costumam ser arqueadas (lira, harpa africana), como poderão comprovar na imagem em baixo que relaciona a evolução da harpa com a evolução do homem.
A harpa é interpretada através da técnica do dedilho, o que significa que o som é produzido pela vibração das cordas quando accionadas pelos dedos do harpista. Apesar dos vários tipos e feitios a mais vulgar e moderna é a harpa de caixilho ( imagem ao lado) que é constituída por cinco grandes partes: coluna ( pelare), caixa de ressonância( resonansbotten), o conjunto de cordas (strängar), a consola (stämnaglar) e o pé com pedais ( fotpedaler ). O conjunto de cordas(47 no total) encontra-se ligado à consola e é recebido na sua parte inferior pela caixa de ressonância que se encarrega de amplificar o som produzido pela vibração das mesmas.


Nos videos que se seguem, poderão assistir à interpretação de variados estilos musicais em harpas de caixilho desde samba a jazz, de música tradicional a música clássica.


Saudações de um Comparsa


terça-feira, novembro 20, 2007

Control

Estreou em Portugal na passada quinta-feira, dia 15, a tão esperada película "Control", acerca da vida de Ian Curtis, vocalista e líder da mítica banda de Manchester dos anos 80, Joy Division.

Anton Corbijn transportou para a tela, a história biogáfica de Ian Curtis, baseada na biografia, "Touching From A Distance", escrito pela viúva do líder da banda, Deborah Curtis, passados 15 anos após o seu trágico suicídio.


Para poder transmitir a carga emocional e a atmosfera misteriosa, encantadora e poética que envolve esta mítica personagem do rock (se assim lhe quiserem chamar), há que transportar o leitor umas décadas atrás, à cidade de Manchester, em Inglaterra.

Em 1977 , Manchester era uma cidade cinzenta, essencialmente industrial e de paisagem claustrofóbica, onde já fervilhava a vanguarda que iria herdar o punk e trazê-lo de volta ao mundo no formato new-wave.

No mesmo ano actua no Electric Circus, a banda que viria a ser a futura Joy Division, mas que na altura subia ao palco sob o nome de Warsaw (nome esse, retirado da música “Warszawa” do LP “Low” de David Bowie). Os elementos da banda apresentavam-se de cabelo curto, camisa abotoada e dentro de umas calças pretas à anos 40 – uma imagem consideravelmente invulgar, contrastando com as jeans rasgadas e o spiky-hair de uns Sex Pistols- (relembro o leitor que no ano de ’77 eclodia o punk-rock na capital inglesa.)

Em 1978, a banda toca no Factory Club, (onde nasceram os controversos Happy Mondays), do famoso e recentemente falecido jornalista Tony Wilson, que foi o responsável pela divulgação do punk/ new wave inglês, e apresentador do lendário programa “So It Goes”, onde se estrearam diversas bandas da época como os Buzzcocks. (Para os leitores interessados na história do Factory Club e das bandas que por lá passaram aconselho o fantástico filme, “24 Hours Party People”.)

Depois desta actuação que mostrava mais uma banda vulgar, os Joy Division trabalharam imenso o seu som e performance: Peter Hook e Bernard Sumner tornaram os gemidos das suas guitarras numa melodia que havia de se tornar a base e o ex-líbris da sua música, acompanhados pelas batidas distantes e secas de Stephen Morriss e pelo romantismo original e intimista da voz de Curtis. O mito tinha acabado de nascer e ninguém imaginaria o que estava para acontecer.

Após travarem conhecimento com o genial produtor Martin Hannett, lançam o primeiro LP “Unknown Pleasures”, recebido de forma brilhante pela imprensa e que fez catapultar a banda do anonimato para a estante das bandas de culto de Inglaterra.

Tornavam-se um culto e uma moda para os meios estudantis. Em 1979 saêm os singles que ainda hoje ecoam em qualquer bar de “rock”: “Transmission” e “Atmosphere”, (cujo videoclip também fora realizado por Anton Corbijn).

Miguel Esteves Cardoso, (que na altura se encontrava a estudar em Manchester e que colaborava e escrevia para a revista “Música e Som”) diz-nos: “Ao vivo, os Joy Division tinham sobretudo a força da sua convicção incrível – aquela soturnidade introspectiva, a loucura demasiado franca de Ian Curtis, e, acima de tudo, a sensação de solidão da banda (em relação ao público e, depois, a tudo) eram demasiado fortes para serem assimiladas como um mero e divertido espectáculo Rock.” (in Escrítica Pop, de M.E. Cardoso).

Em vésperas de uma tourné pela América, Curtis é encontrado pela sua mulher ajoelhado no chão da cozinha de sua casa em Macclesfield com uma corda ao pescoço. Era 18 de Maio de 1980 e cumpria-se assim o mito romântico do artista/herói perturbado: mais uma morte prematura na cultura rock.

O resto explica-se facilmente. Nascem os New Order como a banda órfã de Curtis, vingando a sua música na cena electrónica que desabrochava nos anos 80, com a entrada em força dos sintetizadores na criação de sons e batidas.


Regressando ao filme “Control”, este ilustra a preto e branco o percurso de Ian Curtis desde a sua juventude em que sonhava ser um Bowie ou até mesmo um Morrisson até ao dia 18 de Maio de 1980. Não se desanimem os leitores pelo facto de eu poder ter estragado qualquer efeito surpresa do filme! Pois esta película não se trata de contar uma história, pois essa já toda a gente a sabe!, mas sim, ilustrar e documentar para a prosperidade o “mito Ian Curtis” e relatar/ desvendar o que atormentou o vocalista que dividia o seu amor por duas mulheres.(!)

Do ponto de vista pessol, e como é óbvio, adorei o filme. Apesar de já saber o que esperar da história entrei na sala ansiosa e saí de lá abatida. Inevitável. Corbijn fez um excelente trabalho e adorei o facto de ter optado por uma tela a preto e branco, remetendo-nos naturalmente para uma história do “passado”, escondida e cheia de “pó”. É um filme arrepiante e tenso , em que por vezes o humor por parte das personagens da banda, nos descontrai momentaneamente.

Para os fãs da banda é um filme imperdível, obrigatório e essencial. Para os desconhecedores da banda é um filme que vale a pena e que mesmo assim é capaz de vos prender, tocar e fazer apaixonar.

O rock perdeu muito cedo um dos seus mais belos príncipes. É um reinado que irá continuar (será que ainda continua?), mas nunca mais será (/foi) o mesmo.


Instrumentos Musicais: A Marimba


"Ser Músico é trabalhar o instrumento todos os dias, é pôr-se permanentemente em questão, é duvidar. É a instabilidade feita estabilidade. Um dia encontra-se, mas no dia seguinte é preciso voltar a procurar. Há conquistas mas nada é definitivo. A música é um fantástico instrumento de trabalho sobre nós próprios. Muito exigente, mas que dá prazer!"

Sophia Domancich


Caros Comparsas

Como forma de oferendar este maravilhoso espaço que completou uma ano de existência há uma semana, decidi criar um novo tipo de voo, a Organologia, que irá abranger o estudo dos Instrumentos musicais. Espero com isto poder contribuir para o desenvolvimento da vossa literacia musical, proporcionando-vos agradáveis novidades e surpresas.
Para começar, é essencial apresentar-vos a classificação dos instrumentos (sistema criado por Erich von Hornbostel e Curt Sachs) constituída por cinco categorias principais:
  • Idiofones - Instrumentos cujo som é produzido pelo próprio corpo do instrumento. É o próprio corpo do instrumento que vibra para produzir o som, sem a necessidade de nenhuma tensão( Engloba alguns instrumentos de percussão de altura indefinida e todos os de percussão de altura definida.)
  • Membrafones - Instrumentos cujo som é produzido por uma membrana esticada, ou seja, produzem som através da vibração dessa mesma membrana( Engloba só instrumentos de percussão de altura indefinida).
  • Aerofones - Instrumentos cujo som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no (ou pelo) instrumento ( Engloba todos os instrumentos de sopro, a voz humana e os órgãos de tubos).
  • Cordofones - Instrumento cujo som é produzido pela vibração de uma corda tensionada( Engloba todos os instrumentos de cordas friccionadas, dedilhadas e percutidas).
  • Electrofones - Instrumento cujo som é produzido a partir da variação de intensidade de um campo electromagnético, ou seja, o som é produzido por meios mecânicos e depois amplificado e/ou modificado electronicamente ( Engloba todos os instrumentos electrónicos e electromecânicos.
I - MARIMBA
A Marimba é um Idiofone de altura definida (significa que as notas do instrumento podem ser afinadas de acordo com as escalas definidas) e é também considerado um instrumento de percussão. Muito semelhante a um Xilofone, a Marimba tem, no entanto, um som mais grave, umas lâminas mais compridas e largas, mas mais finas e tem uma caixa de ressonância constituída por tubos ( característica que mais a diferencia do Xilofone). A técnica de execução consiste no uso de duas a seis baquetas de lã ou feltro que ao percutirem as lâminas, provocam a sua vibração que ressoa através dos tubos ( as marimbas africanas tradicionais têm cabaças como caixa de ressonância) , proporcionando-nos um timbre maravilhoso.
Nos vídeos disponibilizados em baixo poderão assistir ao desempenho dos Marimba Ponies, um grupo de crianças japonesas que privilegia as marimbas como as construtoras principais da harmonia e melodia da música que interpretam ( a canção natalícia Sleigh Ride de Leroy Anderson e o clássico " A Primavera - 1º andamento" das Quatro Estações de Antonio Vivaldi). No terceiro vídeo deslumbrem-se com a música dos moscovitas Apocalypse Marimba Plus, que unem a Marimba a instrumentos de sopro ( trombone, trompa,tuba, trompete), a um violoncelo, a uma bateria e a um baixo, produzindo assim uma harmonia tenebrosa que chega a ser hilariante. Por último no quarto vídeo, apesar de não fazer ideia nenhuma sobre a identificação dos intérpretes( orientais são com certeza), o objectivo principal será mostrar-vos a execução da peça Xylophonia, escrita por Joe Green, na qual poderão diferenciar o timbre das Marimbas e de um Xilofone, que no caso é o instrumento solista.

Saudações de um Comparsa



terça-feira, novembro 13, 2007

Um ano a voar!

Há exactamente um ano, o Falcão e Comparsas fazia o seu baptismo de voo. Depois de 365 dias, 60 posts e mais de 10.000 visitas, acho que posso afirmar que o saldo é positivo. Pretendia a divulgação dos nossos gostos, a partilha daquilo que achávamos que os outros também mereciam conhecer e isso foi conseguido. Após um (natural) entusiasmo inicial, o Falcão passou por um período de voo rasante (especialmente durante os meses de Verão), mas agora está de novo na ribalta e pronto para voos cada vez mais altos. Estamos de volta com nova imagem e com várias novidades na barra lateral (espreitem...), sempre no sentido de melhorar a qualidade deste espaço, e agora também com o intuito de dar a conhecer um pouco da nossa terra.
Resta-me agradecer a todos os Comparsas que me têm acompanhado nesta aventura, mas também aos nossos visitantes, especialmente aos que se dão ao trabalho de comentar e que valorizam a nossa dedicação. Um bem haja!

Por fim, podem ver aqui e agora todos os voos do Falcão e procurar algum que vos tenha escapado...

Saudações de Um Comparsa


sexta-feira, outubro 26, 2007

Almost Famous - Quase Famosos

É um daqueles filmes que ficam, que vemos repetidamente e não nos cansamos. “Almost Famous” é um retrato nostálgico e tocante mas sempre bem-humorado, sobre o mundo do jornalismo e do Rock and Roll dos anos 70. O filme de Cameron Crowe é uma película sobre um grupo de música que nunca existiu (os “Stillwater”), mas é, simultaneamente, um filme autobiográfico do realizador.

O filme passa-se no início da década de 70. William Miller, um adolescente de 15 anos, é um aspirante a jornalista de Rock and Roll desde que ouviu “Sparks” dos «The Who» e descobriu e se apaixonou pela Música. Depois de escrever artigos sobre música para um jornal de bairro, acaba por receber um convite inesperado da consagrada revista "Rolling Stone", que o encarrega de fazer uma reportagem sobre os “Stillwater”. O seu trabalho é capturar aquele momento muito especial, único e irrepetível no mundo da música, em que uma banda quase desconhecida está a um passo de se tornar famosa. “Almost Famous” é a história dessa reportagem que se vai desenrolando durante uma tournée dos “Stillwater”. Mas nessa espantosa viagem pelo país real, William vai passar de repórter neutral e objectivo, a observador participante na dinâmica do próprio grupo. Os “Stillwater”estão no limiar do sucesso, mas William, aos 15 anos, está a viver um momento mágico da sua vida.

Ao contrário da maioria dos realizadores de filmes sobre o mundo do rock, que só o conheceram enquanto espectadores de concertos, Cameron Crowe, antes de ser cineasta e de ter feito “Almost Famous”, foi o mais jovem jornalista de rock americano, tendo-se tornado nos anos 70, num dos nomes de destaque da "Rolling Stone". Não admira, portanto, que “Almost Famous”, onde Crowe foi beber às suas memórias de jovem jornalista, e cuja personagem principal é o seu «alter ego», desminta todos os estereótipos do excesso, da revolta e da auto-destruição típicos dos filmes sobre bandas rock. Crowe consegue falar de sexo, drogas e Rock and Roll num tom e a uma escala «normal», que tudo humaniza, tudo desmitifica e tudo torna credível à primeira impressão.

Os actores são, sem excepção, sublimes, nos papéis principais e secundários. De Billy Crudup a Jason Lee, de Patrick Fugit a Kate Hudson, passando por Philip Seymour Hoffman e, claro, a grande Frances McDormand. E os fãs dos gloriosos anos 70 podem recordar na banda sonora temas dos «Led Zeppelin», «The Who», «Elton John», «Black Sabbath», «Yes», «Simon and Garfunkel», «The Beach Boys», «David Bowie», entre muitos outros nomes que fizeram história.

Ganhou o Óscar de Melhor Argumento Original, além de ter recebido outras 3 nomeações: Melhor Actriz Secundária (Frances McDormand e Kate Hudson) e Melhor Edição. O Argumento de “Almost Famous”, escrito por Cameron Crowe, é baseado nas suas memórias de quando acompanhou parte da tournée americana dos «Led Zeppelin». Aliás, os “Stillwater” são uma mistura de três grupos que o realizador Cameron Crowe adorava: «Led Zeppelin», «Allman Brothers» e «Lynyrd Skynyrd».

Se nunca viram, procurem ver e deliciem-se com esta carta de amor de Cameron Crowe ao Rock and Roll.

“What do you like more about music?”

“Everything…”



sexta-feira, outubro 05, 2007

Jeff Buckley

Foi há já dez anos que desapareceu uma das melhores vozes do rock dos anos 90.
O cenário é a cidade de Memphis. Jeff Buckley e Keith Foti, amigo e roadie, caminham em direcção a um estúdio onde têm encontro marcado com a banda. Jeff, sempre desafiante, entra nas águas do Wolf River com a roupa vestida e as botas calçadas, apesar dos receios e avisos de Keith. Num rádio portátil pode ouvir-se «Whole Lotta Love» dos Led Zeppelin. Jeff Buckley entoa a letra em voz alta e brinca com a forma própria de Robert Plant cantar. Keith tenta afastar o rádio para evitar que seja danificado pelas ondas provocadas pelos barcos que por ali passam. Quando se vira, já não vê Jeff. Naquela altura só as luzes da cidade iluminam as tristes águas do Wolf River. O corpo de Jeff Buckley é encontrado seis dias depois. O homem que sabia demasiado acerca da vida e do amor havia sucumbido prematuramente de forma trágica e tornava-se num mito para uma geração.

Jeff é filho de Tim Buckley, músico folk que abriu os braços ao jazz e que abandonou Jeff quando este tinha ainda poucos meses. Tim viria a falecer quando Jeff tinha oito anos por overdose de heroína. A sua mãe, Mary Guibert, era uma pianista e violencelista com formação clássica. Jeff cresceu rodeado de músicos e aprendeu música de forma autodidacta desde que descobriu a guitarra da sua avó quando tinha apenas cinco anos. Desde cedo começou a ouvir Led Zeppelin, Jimi Hendrix e The Who e compôs a sua primeira canção aos treze anos.
Estudou no Musician`s Institute de Los Angeles. Desde que saiu de casa aos 17 anos, passou por diversas bandas de rock antes de começar uma carreira a solo, chamando a atenção do público pela primeira vez num tributo ao seu pai. Assina contrato com a Columbia Records e “Grace” é editado em 1994 tendo excelentes críticas junto da imprensa especializada. Visto como ambicioso por uns, obra de génio por outros, mas fundamental para deixar o nome de Jeff Buckley entre os mais influentes da música de 90. Tudo devido à sua composição e interpretação singulares e pela originalidade descoberta na confluência de referências que apresentou a uma geração que as desconhecia. Buckley viria a desaparecer em 1997, quando trabalhava no seu segundo álbum, que nunca conseguiria terminar. As canções inacabadas foram editadas num álbum duplo pela sua mãe com o título “Sketches(For My Sweetheart the Drunk)” em 1998. Continuaram depois a editar álbuns póstumos com material recuperado de concertos e gravações privadas. A vida e carreira de Jeff Buckley, vão ser imortalizadas no cinema sob o título "Mystery White Boy" e está previsto que chegue às salas em 2009.

Aqui fica a homenagem a este grande músico, que com um disco apenas conseguiu consagrar-se como uma das vozes dos anos 90 e que continua a conquistar fãs, dez anos após a sua morte.

P.S. Não consegui colocar aqui alguns dos clips dos singles, porque a SONY não permite que sejam visionados fora do Youtube... Podem ver apenas o vídeo oficial de "Last Goodbye" e o resto são actuações ao vivo e tributos de fãs.


sexta-feira, agosto 10, 2007

quarta-feira, julho 25, 2007

Life On Mars

Esta série com o carimbo de qualidade da BBC, é neste momento a produção televisiva mais popular em terras de Sua Majestade.

“Life On Mars” é uma mistura de policial com ficção científica e é uma proposta refrescante de 16 episódios (em duas temporadas de 8), o número exacto que os seus autores precisavam para contar a história que tinham na cabeça, não se arrastando indefinidamente como muita boa série que por aí anda.

O arranque deu para ficar agarrado: a série começa como um policial normal, moderno, até ao momento em que o protagonista, o Detective Sam Tyler, em plena angústia provocada pelo rapto da namorada, é atropelado por um carro... e, para grande espanto seu, acorda em 1973. O iPod que tinha no carro e onde “Life on Mars” de David Bowie tocava, é agora um auto-rádio com cartuchos... numa viatura que parece saída de um episódio de Starsky and Hutch. Sem saber como, o polícia refinado dos anos 2000 foi parar aos politicamente incorrectos 70s, repletos de polícias machistas e brutos... com os quais vai ter de trabalhar. Ele não entende nada e nós também não. Sem saber se está louco, se está em coma e tudo se passa no seu subconsciente ou se de facto viajou no tempo, Sam tenta descobrir o que aconteceu enquanto é obrigado adaptar-se à sua nova realidade. Na Manchester de 1973, ele também é um policia e tem que aprender a fazer o seu trabalho de investigação num mundo sem telemóveis, registos de impressões digitais, exames de DNA e coisas desse tipo. Por outro lado, tenta desvendar, no passado, algumas pistas sobre o paradeiro da sua namorada, no presente.

A produção é óptima, o mistério está bem montado, a reconstituição de época é detalhada à mais ínfima textura, a banda sonora tem o melhor que se fez naquela época e as interpretações são da qualidade habitual da BBC.

Nos vídeos, podem ver os trailers e o arranque da série. De certeza que vão gostar, por isso podem encontrar os episódios aqui.




sábado, junho 16, 2007

Festival Serra da Estrela 2007

Foi esta semana divulgado o cartaz do 3º Festival da Serra da Estrela que se realizará entre 12 e 15 de Julho e sendo este o único evento do género na nossa região, sinto-me na obrigação de o divulgar neste nosso espaço.
O 1.º Festival da Serra da Estrela surgiu do alinhamento de ideias de um grupo de jovens de Valhelhas com o intuito de dinamizar social e culturalmente esta zona da Serra da Estrela através de um evento que dá a conhecer um 'interior' que, embora longe dos grandes centros, não deixa de ser uma zona empreendedora e aberta a novas iniciativas. Toda a envolvência natural e as condições físicas e estruturais de Valhelhas são uma mais valia, que só por si merecem a nossa visita.
A aldeia fica situada no parque natural da Serra da Estrela, a 20km da Guarda e da Covilhã e dista 15 km da auto-estrada A23 (cliquem no mapa para ampliar).

Nesta edição a estrutura base do Festival é mantida, como tal as tasquinhas regionais não podiam faltar ainda com mais sabores e aromas, assim como a zona de artesanato montada numa tenda gigante. Um parque radical maior e a praia fluvial cheia de actividades aquáticas, assim como peças de teatro e workshop’s preencherão as tardes do público presente. Sendo um dos objectivos da organização querer sempre melhorar a qualidade deste evento, uma das novidades para este ano será um palco secundário, denominado palco Zêzere, para divulgação de bandas de “garagem” do Distrito da Guarda. Todas as noites serão encerradas pelos incansáveis Dj’s na zona after-hours.

Apareçam, pois o festival vale pelo seu todo e não apenas pela música, podem desfrutar das belas paisagens e também da praia fluvial à porta da tenda. Para mais informações, passem por: www.festivalserradaestrela.com .


Quinta, 12 de Julho
Missyrbss
Phoenix Crew
Clandestinos

Sexta, 13 de Julho
The Zippers
Mundo Cão
Balla
Expensive Soul & Jaguar Band

Sábado, 14 de Julho

Dazkarieh
Souls Of Fire
Terrakota
Primitive Reason

Domingo, 15 de Julho
Sequela
The Fury




quarta-feira, junho 13, 2007

Arrested Development

Descobri esta série recentemente e senti que tinha que partilhar esta pérola com vocês. Considerada por muitos como a melhor comédia pós Seinfeld, "Arrested Development" é um autêntico abalo cómico graças a histórias divertidas em cada episódio e geniais interpretações de um humor sem tréguas. Os intérpretes são primorosos e vestem a pele de personagens minados de pancas e extravagâncias. Os actores estão à altura do desafio, criando e explorando diferentes abordagens em ecrã dos seus personagens, o que transmite uma constante renovação, em que a "pancada" se tende a agravar.
A série desenrola-se à volta de Michael Bluth, uma pessoa normal no meio da sua família disfuncional, que é obrigado a ficar em Orange County para ficar à frente do negócio de imobiliária depois de seu pai, George Bluth Sr., ser preso por operações duvidosas e é o único que entende a seriedade da situação. Mas a história muda quando se conhece os membros dessa família. Além de Michael, ela é formada por sua mãe, Lucille, uma socialite tão fria quanto os seus martinis ; os seus irmãos Buster (um estudante neurótico que é o menino da mamã) e Gob (um mulherengo e fracassado mágico); sua irmã obcecada por moda Lindsay e seu marido Tobias que perdeu a licença de médico e sonha tornar-se actor. E ainda George Michael, o filho adolescente de Michael, que tem uma estranha paixão por sua prima Maeby (filha de Lindsay e Tobias).

Há uma quebra dos valores convencionais na forma de fazer comédia com «Arrested Development». É certo que a estrutura das famílias disfuncionais é uma formula recorrente na televisão, mas o que a diferencia das outras é o brilhante casting, as situações absurdas em que as personagens são colocadas, mas também o estilo visual inovador da série. Outro pormenor, é que, ao contrário da maioria das comédias, a série não tem nenhuma risada da plateia.

Possui um grande leque de participações especiais, contando com nomes como Liza Minelli, Ben Stiller, Charlize Theron, Zach Braff e Julia Louis-Dreyfus. O actor/realizador Ron Howard fecha a galeria das presenças especiais: apesar de não creditado, é a voz do narrador.
A mais inovadora das séries de comédia televisiva americana dos últimos anos galardoada com vários Emmys, incluíndo Melhor Série Comédia, Melhor Direcção para Série Comédia e Melhor Escrita para Série Comédia, já foi exibida em Portugal com o nome «De Mal A Pior», pela TVI, porém teve o destino que a grande maioria das séries compradas pelo canal tem, e foi remetida para altas horas da madrugada.

Podem visionar alguns excertos nos videos em baixo, encontrar os episódios aqui ou ver a opinião do grande Nuno Markl , quando lhe perguntei o que achava da série. Descubram a família Bluth, que contribuiu para o abanão nas convenções televisivas na América nos anos 2000, a par de séries tão diversas como «Prison Break», «Perdidos» ou «24», séries que mudaram a forma como olhamos para as produções do pequeno ecrã.



segunda-feira, maio 21, 2007

Chinatown

Mais de 30 anos passaram desde a estreia de «Chinatown», um dos primeiros grandes sucessos de bilheteira e de crítica de Jack Nicholson, que lhe valeu inclusivamente a sua segunda nomeação para um Oscar da Academia. Este clássico do film noir, realizado por Roman Polanski em 1974, segue os passos do detective privado Jake Gittes na Los Angeles dos anos 30. Ele é contratado para investigar um possível caso extraconjugal de Hollis Mulwray, marido de Evelyn (Faye Dunaway), mas acaba por descobrir algo bem maior do que aquilo que procurava. Gittes vai descortinando lentamente uma rede de conspirações e assassinatos que acabarão por colocar a sua própria vida em perigo… O final intensamente dramático é talvez uma das razões que eleva este filme a um clássico.
«Chinatown» teve umas impressionantes 11 nomeações para os Oscares (incluindo Melhor Filme, Realizador, Actor e Actriz), mas apenas conquistou a estatueta para o argumento de Robert Towne. Este era o ano de outro grande filme: «O Padrinho II». Jack Nicholson ganharia o seu primeiro Oscar no ano seguinte com a sua interpretação em «Voando Sobre Um Ninho de Cucos».
Nicholson gostava tanto da personagem, que foi rejeitando todos os papeis de detective propostos ao longo da carreira. Originalmente, «Chinatown» fazia parte de uma trilogia sobre Jake Gittes e Los Angeles, e o próprio Nicholson realizou e protagonizou «Two Jakes» em 1990. No entanto, cotou-se como um insucesso e «Cloverleaf», a terceira parte, nunca chegou a ver a luz do dia…
Vejam, porque vale a pena. Além disso, é sempre um prazer ver trabalhar este senhor…
"Forget it, Jake. It's Chinatown"



quinta-feira, maio 10, 2007

Focus / Ekseption

Caros Comparsas

Há bem pouco tempo tive a felicidade de conhecer duas bandas históricas nos Países Baixos. Até hoje todo o universo da música holandesa que me rodeava restringia-se aos Within Temptation, (que aproveitaram a porta aberta pelos Evanescence para se afirmarem como êxitos de venda, apesar de serem pioneiros no género e certamente referência para os norte-americanos) e a Ludwig van Beethoven, que apesar de ser genuinamente alemão, tem descendência holandesa!

Sendo um país com uma política extremamente liberal e sendo um terço da sua população não religioso, a Holanda é um paraíso para aqueles que adoram praticar o que é proibido mas que se pode fazer. E a música parece ter seguido esse espírito liberal...
Os Focus e os Ekseption iniciaram-se no mundo da música no final dos anos 60, ambas bandas de rock progressivo e sinfónico, destacaram-se pelas brilhantes composições e improvisações instrumentais nos seus temas.
Com várias influências eruditas, os Ekseption encarnam uma verdadeira orquestra electrónica em palco misturando o lado clássico da música com o psicadelismo progressivo. A banda era composta por um trompetista, um saxofonista-flautista (simultaneamente), um percussionista, um baixista e pelo irreverente Rick van der Linden que interpretava tudo o que tivesse teclas :) Chegaram a ter um vocalista em dois álbuns, mas a ideia foi abandonada pois toda a essência da banda era instrumental. O tema que podem apreciar em vídeo é uma adaptação da obra Badinerie naar Suite No. 2 in B-Minor de Johann Sebastian Bach!
Também iguais em excentricidade e mestria os Focus são considerados o melhor colectivo holandês dos anos 70. Liderados pelo organista e flautista Thjis van Leer a sua música sem regras era de uma originalidade e exclusividade extraordinária, contendo também referências clássicas. Actualmente ainda no activo, a formação passou por muitas mudanças, mas não perdeu a energia de há 35 anos atrás. Os temas a que poderão assistir no vídeo são os seus dois grandes êxitos, estejam atentos à extensão vocal de Thjis van Leer.
Convido-vos então a conhecer estas duas pérolas holandesas que me fizeram reforçar a preferência pelos anos 70 como a minha década preferida da história da música.

Saudações de um Comparsa



sexta-feira, abril 27, 2007

Crysis / Assassin's Creed

O ano de 2007 promete ser marcante em termos de software. Com a entrada do novo DirectX 10 e do windows Vista, a jogabilidade, qualidade gráfica, etc, prometem marcar uma nova era na indústria dos videojogos!!
Esperam-se então para este ano grandes lançamentos dois quais saliento dois:

CRYSIS

Sem grandes dúvidas, este vai ser um dos, senão "o" jogo de 2007. Crysis já é tratado como um dos grandes pioneiros do "futuro digital" onde a realidade e o virtual se cruzam, e isso não é de admirar, pois se Far Cry já havia surpreendido tudo e todos com a excepcional qualidade e detalhe de todo o grafismo do jogo, Crysis deixará qualquer um, amante ou não de Atiradores na Primeira Pessoa (FPS), de boca aberta e queixo no chão.

Estamos então perante um título mais que titânico, onde a inteligência artificial promete não desiludir, assim como toda a história e envolvência do jogo. Para os mais receosos inclusive, a Crytec já anunciou que Crysis servirá tanto para computadores de "ponta" como para os mais antigos e desactualizados.



ASSASSIN'S CREED

Quem não vai gostar deste título? Pelo pouco que se sabe e pelo muito que promete já é um vencedor. Só a história (pelo menos a parte que conhecemos) vai inspirar-se numa das épocas da humanidade mais rica em acontecimentos e de subtilezas. Uma época que marcou a nossa actualidade e o futuro, com a divisão que as Cruzadas criaram entre as culturas ocidentais e as do Médio Oriente.

A ideia de vestirmos a pele de um assassino de uma das seitas menos estudadas até mais recentemente, seduz logo à partida. Jerusalém, os Templários, as grandes Cruzadas e toda a seita secreta dos Hashashin, são mais que suficientes para tornar Assassin's Creed num jogo memorável. Mas este título promete também noutros campos, o facto de podermos interagir com praticamente tudo o que nos envolve, desde a intensidade variada com que empurramos os transeuntes, às peripécias impossíveis que somos capazes de fazer, coloca em cima da mesa novos elementos.





Saudações de um comparsa

terça-feira, abril 24, 2007

33 anos de Liberdade

Caros Comparsas

Há 33 anos atrás Portugal era um país oprimido pelo tiranismo do Estado Novo. A Constituição não garantia o direito dos cidadãos à saúde, à educação, ao trabalho e à habitação. Todas as formas de cultura ( Música, Escrita, Teatro, Cinema e Artes Plásticas) eram previamente censuradas. O governo mantinha uma inútil guerra colonial que nos isolava da restante comunidade internacional. A actividade política estava condicionada, não havendo direito a eleições livres. Aqueles que se opunham ao autoritarismo governamental da época eram imediatamente perseguidos pela polícia política, obrigando-os a agirem na clandestinidade ou ao exílio.
O historiador António Reis, que viveu a opressão salazarista e marcelista, escreveu o seguinte:
"Portugal era um país anacrónico. Último império colonial do mundo ocidental, travava uma guerra em três frentes africanas solidamente apoiadas pelo Terceiro Mundo e fazia face a sucessivas condenações nas Nações Unidas e à incomodidade dos seus tradicionais aliados.
Para os jovens de hoje será talvez difícil imaginar o que era viver neste Portugal de há vinte anos, onde era rara a família que não tinha alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pelos aparelhos censório e policial, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada.
A anestesia a que o povo português esteve sujeito décadas a fio, mau grado os esforços denodados das elites oposicionistas, a par das injustiças sociais agravadas e do persistente atraso económico e cultural, num contexto que contribuía para a identificação entre o regime ditatorial e o próprio modelo de desenvolvimento capitalista, são em grande parte responsáveis pela euforia revolucionária que se viveu a seguir ao 25 de Abril, durante a qual Portugal tentou viver as décadas da história europeia de que se vira privado pelo regime ditatorial. "

António Reis - Portugal, 20 anos de Democracia

Às 22 horas e 55 minutos do dia 24 de Abril de 1974, é anunciada aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, e colocada no ar a partir dos estúdios do Rádio Clube Português, a canção de Paulo de Carvalho "E Depois do Adeus". Inicia-se assim a Revolução, pois a canção serviu de senha para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas. A segunda senha foi dada pela canção "Grândola, Vila Morena" de José Afonso, e foi posta no ar à meia noite e vinte de 25 de Abril de 1974 pela Rádio Renascença.
O que se seguiu espelha o inconformismo dos portugueses e a vontade incontestável de seguir outro rumo, numa revolução sem mortes, sem sangue... Os militares de Abril derrubavam os excrementos que durante 48 anos oprimiram o Povo Português e a multidão sai à rua e saúda efusivamente os soldados revoltosos. Perdurará para sempre na história a imagem do cano da espingarda com um cravo vermelho, símbolo da Revolução, símbolo da Descolonização, símbolo da Democracia...

Saudações de um Comparsa





Artigo também publicado no blog Bar a Fábrica

sábado, abril 21, 2007

Som Nacional - Parte V

Mundo Cão
Os Mundo Cão são uma das novas revelações do rock nacional do ano de 2007. Quando Pedro Laginha, actor, se encontra com músicos de primeira, vindos de bandas como os Mão Morta, os Braindead ou os Big Fat Mamma, o resultado é uma experiência promissora chamada Mundo Cão, cujo single Morfina é uma pérola rock que entusiasma como poucas outras. Mas a grande revelação para mim é mesmo Pedro Laginha, que se revela um carismático vocalista. Laginha colaborara já com os Mão Morta, do baterista Miguel Pedro, no clip de Cão da Morte e posteriormente em alguns temas do último álbum. Adolfo Luxúria Canibal, que baptizou o projecto de Mundo Cão, assina todas as letras do álbum de estreia, uma escolha que Miguel Pedro justifica pela «alma de escritor» do líder dos Mão Morta. Sem veleidades a ser fenómeno de popularidade. os Mundo Cão pretendem acima de tudo a consolidação do seu projecto alicerçado na qualidade dos temas. A imagem e o reconhecimento dos músicos junto dos mais atentos observadores do mundo da música portuguesa é já um capital inalienável.

The Vicious Five
Tudo começou com muita vontade de agitar as hostes. Depois surgiram alguns temas e um ou outro concerto ao vivo. Com o seu curto e grosso álbum de estreia Up On The Walls, os Vicious Five deram a conhecer ao grande público o seu punk rock . São 34 minutos a rasgar até o suor escorre pelas colunas. É o resultado natural do trabalho da banda, mas ao mesmo tempo uma agradável surpresa para todos aqueles que só agora conhecem o som do grupo lisboeta.
Apostando nas guitarras e postura punk, o grupo baseia a sua música essencialmente nas suas letras, nas ansiedades de uma juventude, no amor sem tabus, nos costumes conservadores da sociedade, na política e a necessária revolução que poderia alterar o estado das coisas.

São bastante famosos pelos seus espectáculos ao vivo recheados de força e vitalidade, que se transformam num festim para dançar como não houvesse amanhã. Com os Vicious Five não há espaço para punk falso e roto por melodias cor-de-rosa. Tudo é verdadeiro. Tudo é visceral.

Balla
Considerado uma das maiores forças criativas da música portuguesa, um talentoso músico, intérprete e DJ, Armando Teixeira é um daqueles artistas que não precisaria dos Balla para provar que é um dos artistas mais dinâmicos e versáteis da cena musical nacional.
Depois dos Da Weasel, Bizarra Locomotiva, Boris Ex-Machina e Bullet, os Balla surgem como a banda onde Armando Teixeira mais dá a cara, o corpo e a voz ao manifesto. Em A Grande Mentira, canta pela primeira vez os 10 temas do disco e não lhe fica nada mal esse papel de front-man. Ele compôs, gravou, misturou e produziu um trabalho individual irrepreensível que se reflecte num disco de canções sem complexos. Descubram este belo projecto da pop electrónica nacional.


sexta-feira, abril 20, 2007

Poema sobre Salazar

Caros Comparsas,

Visto que agora está tão em voga falar de Salazar, achei pertinente trazê-lo também ao nosso blog... Poupo assim as minhas palavras e dou a voz ao nosso grande poeta Fernando Pessoa:

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António
Oliveira é uma árvore
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal
E sob o céu
Fica só azar, é natural.

Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho
Nem até
Café.


Saudações da Comparsa Ariadne*

sexta-feira, abril 13, 2007

Marillion

Caros Comparsas

Formados em 1979, os Marillion constituem um ícone na história do rock progressivo dos últimos 25 anos. Inspirados por lendas como os Genesis, os Yes, os Van der Graf Generation e os Pink Floyd, a banda começou por chamar-se Silmarillion. Mas problemas com a família do escritor J.R.R. Tolkien (uma das suas obras tem como título Silmarillion) fez com que o nome do grupo encurtasse para apenas Marillion. A constituição da banda foi altamente rotativa nos primeiros anos apenas se tendo mantido o guitarrista Steve Rothery. Em 1983 lançam o seu primeiro álbum Script for a Jester's Tear, iniciando-se assim a primeira era da banda, liderada pelo vocalista Fish, com o qual compuseram sucessos como Garden Party, Incommunicado, Kayleigh e Lavender. Depois de mais três álbuns originais, Fish decide seguir uma carreira a solo, e o quinto álbum da banda A Season's End (onde está incluído o sucesso Easter) contou já com a voz do actual vocalista Steve Hogarth marcando o início da segunda era da banda. Com os restantes elementos Steve Rothery na guitarra, Pete Trewavas no baixo, Mark Kelly nos teclados e Ian Mosley na bateria, os Marillion revigoraram o seu som, criaram a sua própria editora, o seu próprio estúdio e lançaram mais nove álbuns de originais, sendo hoje a banda britânica com mais discos gravados. Das suas obras irei destacar o majestoso Brave ( o meu preferido), o excelente Marbles e o fabuloso último álbum Somewhere Else lançado este mês, que será apresentado a 16 de Abril no Europarque em Santa Maria da Feira, e a 17 de Abril na Aula Magna em Lisboa. Este Somewhere Else que já tive o privilégio de ouvir, é considerado por muitos o melhor álbum dos Marillion, provando que com 25 anos de carreira e depois de 14 álbuns, a banda continua a superar-se a si própria. Faltar-lhes-á talvez o reconhecimento e a aclamação do grande público....

Poderão assistir aos vídeos dos temas que referi como sucessos carregando no nome dos mesmos. Na página deixo-vos com a interpretação ao vivo dos brilhantes The Great Escape e Living With the Big Lie pertencentes ao álbum Brave.

Saudações de um Comparsa


sábado, março 31, 2007

20 Grandes Conspirações da História

Como por vezes é demasiado incrível, a verdade é com frequência omitida.
Heraclito

A teoria da conspiração é um paradigma, uma hipótese de raciocínio para nos aproximarmos do conhecimento da nossa realidade…
Santiago Camacho


Santiago Camacho, escritor e jornalista, colabora em vários meios de comunicação social espanhóis. Os seus artigos e reportagens obedecem sempre a um denominador comum: a denúncia e a polémica.

Este livro, conforme podemos perceber pelo título, não é excepção. Camacho passa em revista material inquietante, desestabilizador, que raramente é mencionado nos órgãos de comunicação social e quase nunca nos livros de História. Apresenta assim novas ideias e pontos de vista inéditos ou resgatados de páginas suprimidas da História, tais como “Criadores de deuses, o grande segredo por detrás do nascimento do cristianismo”, “A fraude Apolo, estivemos realmente na Lua?”, “Fátima, o outro rosto do milagre”, “Lennon tem de morrer, a guerra oculta contra o rock and roll” ou “A grande impostura, a outra infâmia do 11-S”.

Deste modo, como o próprio autor afirma, “este não é um livro para todas as pessoas. Aqueles que se sentem confortáveis com a sua actual visão do mundo, da política, da religião, da economia ou da história, talvez devam escolher outro género de leitura. Também não creio que este seja um livro adequado para aqueles que têm uma fé inabalável no sistema e nas suas instituições, que consideram que os meios de comunicação não dizem senão a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade… Por outro lado, deste livro desfrutarão… os inconformados, os que questionam a autoridade, os que cada dia assistem atónitos ao espectáculo da crescente estupidificação do ser humano.”

Santiago Camacho não pretende afirmar que todas as teorias aqui analisadas estejam cem por cento certas, pretende antes despertar dúvidas razoáveis, o que prova que cada uma das suas teorias conta com um conjunto de provas suficiente. Este livro pretende fazer pensar, de modo a que o leitor tenha na sua posse uma série de elementos de raciocínio adicionais, sendo estes difíceis de obter por outros meios, e que lhe permitem considerar que existem outras maneiras de enfrentar a realidade. Encontrar a verdade – a sua verdade – cabe a cada um de nós como leitores, pois, como afirma Camacho, “a miopia de não vermos mais além das nossas próprias crenças pode fazer-nos perder para sempre aquilo que nos torna autenticamente livres: a capacidade de duvidar”.

Saudações da Comparsa Ariadne*

segunda-feira, março 05, 2007

José Gonzaléz - Veneer


Apesar de já ter saído em 2003, o primeiro álbum (“Veneer”) deste cantautor, e porque não dizê-lo trovador, sueco de raízes argentinas só há cerca de um ano começou a rodar por essa Europa fora. Tudo por causa de um anúncio que provavelmente já viram na TV, o anúncio da Sony Bravia (aquele com umas bolinhas a saltitar) em que a música de fundo “Heartbeats” (uma cover dos também suecos “The Knife”) era a verdadeira estrela. Musicalmente “Veneer” é um álbum de indie-pop totalmente acústico e muito intimista onde José Gonzaléz mostra o seu enorme talento tanto a nível vocal como na destreza com que dedilha a sua viola acústica. Todas as músicas deste álbum evidenciam um enorme bom gosto e denotam um passado a ouvir bossa nova, rock clássico, pós-punk e bandas como os “Joy Division”, “Kings of Convenience”, “Nick Drake”, “Paul Simon” ou “Elliot Smith”. José Gonzaléz participou ainda como vocalista convidado no último álbum dos Zero 7 “The Garden”. “Veneer” é a banda sonora ideal para aqueles dias em que nos sentimos mais tristes ou melancólicos. Mas o melhor mesmo é ouvirem o que este trovador tem para vos contar. Mais info: http://www.jose-gonzalez.com/

sábado, março 03, 2007

Brick

O nome Rian Johnson poderá não vos dizer nada para já, mas acreditem que é um dos jovens cineastas sobre os quais mais atenções vão recair nos próximos anos. Brick recebeu o Grande Prémio do Júri para Visão Original no Festival de Cinema de Sundance em 2005 e esteve nomeado para os Independent Spirit Awards, que distingue as produções independentes e de orçamentos pequenos ou limitados no cinema norte-americano.

Este filme, que passou quase incógnito nas salas portuguesas, apresenta uma história com claras alusões ao film noir mas inesperadamente ambientada no universo estudantil de um liceu. Existe um herói pouco óbvio, calado e subtil, um vilão poderoso e perigoso, enigmáticas e sedutoras femmes fatales e uma donzela em apuros. Brendan é um adolescente solitário (ou melhor, anti-social) que investiga o desaparecimento da sua ex-namorada Emily, que recentemente se juntou a um grupo mais popular e também mais perigoso. Com a ajuda de Brain, a investigação de Brendan leva-o a um grupo de traficantes liderado por The Pin.

De uma forma não-linear, Brick começa no meio da acção, volta atrás, regressa a essa cena inicial e continua a partir daí. Neste policial de traição e assassínio, ninguém é isento e cada um esconde diferentes motivações, que se vão revelando de uma forma simultaneamente consistente e surpreendente. A envolvente realização de Johnson tem um óptimo ritmo e é eficaz na edificação de uma soturna atmosfera urbana. Os diálogos são certeiros e temperados com doses suficientes de humor negro e o elenco, todo ele jovem, está à altura das necessidades do projecto, em particular o protagonista Joseph Gordon-Levitt, que não poderia estar mais longe do imberbe papel através do qual se celebrizou na popular série Terceiro Calhau a Contar do Sol.

Espero que Brick seja uma boa base para a futura carreira do realizador Rian Johnson. Estaremos de olhos postos em The Brothers Bloom, o seu próximo projecto para 2008, com Rachel Weisz à cabeça. Para já, vejam o trailer que vos vai deixar com vontade de ver este interessante filme.