terça-feira, fevereiro 26, 2008

Instrumentos Musicais: o Oboé e o Clarinete;

"Ser Músico é trabalhar o instrumento todos os dias, é pôr-se permanentemente em questão, é duvidar. É a instabilidade feita estabilidade. Um dia encontra-se, mas no dia seguinte é preciso voltar a procurar. Há conquistas mas nada é definitivo. A música é um fantástico instrumento de trabalho sobre nós próprios. Muito exigente, mas que dá prazer!"

Sophia Domancich


Caros Comparsas

Variando um pouco a tendência da exposição individual de cada instrumento, resolvi expor de uma só vez dois instrumentos cujo timbre é muito semelhante e que muitas dúvidas provoca na identificação auditiva de cada um. Tentarei clarificar-vos sobre as diferenças entre o clarinete e o oboé. Antes disso, algumas noções essenciais:
  • Timbre - Característica do som que nos permite distinguir fontes sonoras que produzem a mesma frequência. [ex. a nota Ré tocada numa Harpa tem a mesma frequência que a nota Ré (com altura semelhante) tocada numa Marimba, no entanto a diferenciação do instrumento é-nos permitida através do seu diferente timbre];
  • Instrumento Transpositor - Instrumento cuja nota escrita (na partitura) é diferente da nota verdadeira, isso por causa da afinação própria do instrumento; sendo assim é necessário que haja uma transposição de notas para que o referido instrumento toque no tom real da música;
E também o sistema de classificação dos instrumentos criado por Hornbostel e Sachs :
  • Idiofones - Instrumentos cujo som é produzido pelo próprio corpo do instrumento. É o próprio corpo do instrumento que vibra para produzir o som, sem a necessidade de nenhuma tensão( Engloba alguns instrumentos de percussão de altura indefinida e todos os de percussão de altura definida.)
  • Membrafones - Instrumentos cujo som é produzido por uma membrana esticada, ou seja, produzem som através da vibração dessa mesma membrana( Engloba só instrumentos de percussão de altura indefinida).
  • Aerofones - Instrumentos cujo som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no (ou pelo) instrumento ( Engloba todos os instrumentos de sopro, a voz humana e os órgãos de tubos).
  • Cordofones - Instrumento cujo som é produzido pela vibração de uma corda tensionada( Engloba todos os instrumentos de cordas friccionadas, dedilhadas e percutidas).
  • Electrofones - Instrumento cujo som é produzido a partir da variação de intensidade de um campo electromagnético, ou seja, o som é produzido por meios mecânicos e depois amplificado e/ou modificado electronicamente ( Engloba todos os instrumentos electrónicos e electromecânicos.
III - OBOÉ

Membro da classe dos Aerofones, o oboé é um instrumento de sopro pertencente à família das madeiras. Peculiar pela sua forma ligeiramente cónica este instrumento faz parte do grupo restrito de sopros que possui na embocadura uma palheta dupla. A palheta é constituída por duas lâminas encostadas uma à outra e fixadas na sua extremidade inferior por um tubo de metal e cortiça, que é posteriormente fixada na extremidade superior do oboé. O executante prende a palheta nos lábios e ao soprar faz com que as duas lâminas vibrem e batam uma na outra proporcionando-nos aquele timbre anasalado e encantador.
Sendo presença constante na orquestra, o oboé é também requisitado como instrumento solista.
Fiquem então com o tema "Gabriel's Oboe" composto e dirigido por Enio Morricone e que faz parte da banda sonora original do filme "The Mission" de 1986 protagonizado por Robert de Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson. De seguida poderão ver e ouvir o oboé num registo diferente interpretado pelo consagrado oboísta Jean- Luc Fillon, segue-se a abertura da suite do bailado "O Lago dos Cisnes" de Tchaikovsky onde o oboé assume o destaque da melodia durante o primeiro minuto. Para terminar um pequeno slide de imagens sobre o oboé e os seus constituintes.






IV - CLARINETE

Também pertencente à classe dos Aerofones e à família dos sopros de madeira, o clarinete apresenta-se quanto à forma com um tubo mais cilíndrico. Mas a grande diferença em relação ao oboé consiste na palheta (a do clarinete é simples e incluída numa boquilha) e na extensão das notas (o oboé possui a menor extensão de notas entre os sopros, enquanto a clarinete, a maior) e no seu timbre que é mais grave e mais aveludado que o do oboé. Como referi anteriormente o clarinete tem uma embocadura de palheta simples, esta ao ser soprada faz com que a palheta vibre contra a boquilha. O clarinete (ao contrário do oboé) é um instrumento transpositor e ocupa posição de destaque nas orquestras actuais devido ao seu poder sonoro e à sua extensão de notas.
Existem vários tipos de clarinete distribuídos por diferentes afinações e tamanhos.
Da esquerda para a direita temos então a requinta, o clarinete soprano (2, 3 e 4), o clarinete alto, o basset horn, o clarinete baixo e o clarinete contrabaixo. Deixo-vos então com os vídeos: no primeiro poderão visionar um trio com clarinete, violoncelo e piano a interpretar a peça "Invierno Porteño" de Astor Piazolla; no segundo um sexteto a interpretar o célebre " Tico-Tico no Fubá" em três tipos de clarinete; o terceiro traz mais uma prestação dos Apocalypse Marimba Plus onde poderemos apreciar o registo do basset horn; para terminar uma verdadeira orquestra de clarinetes a interpretar a peça "Rikudim" do compositor belga Jan van der Roost.

Saudações de um Comparsa


sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Atonement - Expiação


Este filme, estreado entre nós durante o mês de Janeiro, é um bom exemplo da bela colheita cinematográfica deste ano.
Primeiramente apresentado no Festival de Veneza, o novo filme de Joe Wright (que nos trouxe em 2005 uma nova versão de “Orgulho e Preconceito”) é um dos grandes filmes deste novo ano, e ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme em Drama. Não há razões para menos, pois estamos perante um título de enorme poder visual e força narrativa, bem servido de excelentes interpretações.
Baseado no aclamado romance de Ian McEwan, Joe Wright agarra todo o potencial desta obra literária, e transforma-a num filme possuidor de uma qualidade temática invejável, muito bem complementada pela sua segura realização, vestida de momentos artísticos de grande relevância.
“Atonement” é um drama familiar e romântico que a dada altura se cruza com o filme de guerra e que mantém uma certa aura que apetece classificar como “clássica” mas que não o é de todo. Em termos narrativos, “Atonement” é muito menos linear do que seria previsível neste tipo de filmes. O tempo é bastante fragmentado, com vários flashbacks que repetem a mesma acção de perspectivas diferentes. Mas comecemos pelo princípio. "Atonement" tem dois momentos bem distintos. Na primeira parte estamos perante um filme de época à "Orgulho e Preconceito". Aqui deparamos-nos com as inquietações sociais de uma família da alta sociedade britânica. É tudo muito bem filmado e os cenários e a fotografia são exemplares. Depois entramos em algo que toca no campo da tragédia épica em tempos de guerra. Uma espécie de "Paciente Inglês", magistralmente filmado e interpretado e com um desfecho poderoso que vem dar todo um novo sentido à primeira parte.
Toda a narrativa é construída sobre personagens de enorme peso humano, e Keira Knightley volta a demonstrar o porquê de ser uma das mais importantes actrizes da actualidade, acompanhada do sólido James McAvoy (que alguns conhecerão da excelente série britânica “Shameless” da SIC Radical ou de O Último Rei da Escócia), um condenado inocente que carrega em si um pecado que não lhe pertence.
Dotado de uma experiente e inteligente realização, uma montagem carregada de suspense, um argumento excepcionalmente bem escrito e de prestações bem conseguidas, “Atonement” é desde já um dos grandes acontecimentos de 2008, onde há ainda lugar de destaque para a fabulosa banda sonora de Dario Marianelli, e para a fotografia de Seamus McGarvey, que capta tão sobriamente a ténue linha entre a esperança e o medo que as imagens nos revelam. Um pequeno conselho: estejam atentos a uma verdadeira lição de "como realizar um épico", no momento em que McAvoy chega à praia francesa de Dunquerque.
Numa semana como esta, tenho que referir as sete nomeações para Óscar que esta película arrecadou, incluindo Melhor Filme. É um filme que aconselho vivamente, que pode não ficar nos vossos preferidos (não ficou nos meus...), mas que toda a gente deve ver, pois isto é bom cinema!




quinta-feira, fevereiro 14, 2008

E os nomeados são...




Deixem as vossas previsões e preferências até dia 24. Bons filmes para todos.
Saudações de Um Comparsa

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford


Não é todos os dias que nos chega um filme como “O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford”, a segunda obra de Andrew Dominik.
Cruel assassino para uns, herói popular para outros, Jesse James é, aos 34 anos, um carismático criminoso acusado de ter morto pelo menos 17 pessoas. Em 1881 a maioria do gang original de Jesse James encontra-se morta ou presa. Para os seus golpes, Jesse e o seu irmão Frank recrutam os irmãos Ford: Charley e Robert, um ambicioso jovem de 19 anos que idolatra (e inveja) James...
Embora o filme não seja de um todo um veículo para os seus protagonistas, as prestações de Brad Pitt e Casey Affleck são tudo menos secundárias. Brad Pitt consegue compor um Jesse James de uma ambiguidade misteriosa, entre o cruel e o atencioso, o violento e o terno. Uma figura maior, que recordamos pela postura serena no mal e no bem. Já Casey Affleck é o actor do filme, que certamente revelará ao mundo o excelente actor que ele é. O seu Robert Ford é magnífico, acompanhando Jesse com um olhar embevecido e um sorriso lânguido, com um misto perfeito de ódio e amor. A sua expressividade é impressionante, sobretudo nos grandes planos.
A começar nas interpretações, passando pela realização e terminando na fotografia, O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford tem todos os condimentos para ser um dos melhores do ano. Quem tiver o intuito de ver o filme, por favor, não pense que vai visualizar muitas cenas de grande acção ou grandes perseguições, pois isso não se sucede. O olhar de Dominik incide nos mais pequenos pormenores, fornecendo ao espectador uma visão extraordinária sobre todos os elementos em cena, naquele que é um dos melhores exercícios dos últimos tempos sobre a importância do ambiente. A câmara demora-se, convida o espectador à contemplação. Dominik não tem qualquer problema em atrasar a acção, só para que possamos entrar na pele dos intervenientes. Esta película conquistou assim duas nomeações para os Óscares da Academia: para Melhor Fotografia (realmente notável do talentoso Roger Deakins) e, claro, para Casey Affleck na categoria de Melhor Actor Secundário (que vai competir com Javier Bardem, que tem açambarcado todos os prémios com o seu trabalho em No Country For Old Men).

Deslumbrante western que não o é, e um filme biográfico que está longe de o ser. Antes uma visão poética de um acontecimento marcante que recorre a imagens deslumbrantes, íntimas e intensas, e a interpretações notáveis. Como uma evocação do estreito elo entre crime e fama, esta película faz uma observação histórica da cultura americana e da sua obsessão com a celebridade. A forma: visualmente arrebatadora.






P.S. Esta é a altura em que os melhores filmes do ano chegam a Portugal. E todos ao mesmo tempo... Podemos encontrar nas salas nacionais Sweeney Todd de Tim Burton (Charlie e a Fábrica de Chocolate, Eduardo Mãos-de-Tesoura), Expiação de Joe Wright (Orgulho e Preconceito), No Vale de Elah de Paul Haggis (Crash), The Darjeeling Limited de Wes Anderson (Life Aquatic), Jogos de Poder de Mike Nichols (Closer) e O Lado Selvagem do conhecido Sean Penn. Nas próximas semanas, vão estrear aqueles que são, para mim, os filmes mais esperados do ano: There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson (Magnolia, Boogie Nights) e também No Country For Old Men dos irmãos Coen (Fargo,The Big Lebowski). Outras estreias aguardadas são Michael Clayton do estreante Tony Gilroy, The Savages de Tamara Jenkins e do muito elogiado Juno, que eu já tive oportunidade de visionar...

Como podem ver, há neste momento películas de boa qualidade para todos os gostos. Com tempo, irei falar daquelas que já me passaram pelas mãos.

Saudações de Um Comparsa