sábado, dezembro 13, 2008

In Bruges

Comédia, drama, humor negro, diálogos bem construídos e inteligentes, prostitutas, canadianos, drogas, suicídios, violência explícita, padres, miúdos, anões. E a bela cidade de Bruges… Estes são os condimentos de uma das boas surpresas que tive nos últimos tempos!
Bruges, uma bem preservada cidade medieval na Bélgica, é um destino acolhedor para os turistas de todo o mundo. Mas para os atiradores profissionais Ray e Ken, bem poderia ser o seu último destino: um trabalho difícil resultou no envio do par, seguindo ordens de Harry, o chefe londrino, mesmo antes do Natal, para a cidade flamenga durante duas semanas, para arrefecer os ânimos. Mas quanto mais tempo aguardam a chamada de Harry, mais surrealista se torna a experiência, envolvendo-se em estranhos encontros com a população local, turistas, arte medieval e um potencial romance para Ray sob a forma de Chloë, que também ela parece ter alguns segredos ocultos. E quando chega finalmente a chamada de Harry, as férias de Ken e Ray transformam-se numa luta de vida e morte de proporções cómicas e consequências surpreendentemente emocionais.
O argumento de McDonagh oferece-nos bons diálogos para duas fortes interpretações. Brendan Gleeson não conseguiria despertar mais empatia nesta figura lúcida e paternal e Colin Farrell, num ambiente onde se sente manifestamente confortável, é aquilo que Hollywood não o deixa ser: depressivo, nervoso e derrotista. A isto juntamos um leque extenso, mas brilhante, de personagens secundárias invulgares, que vão deste o anão racista à bela traficante de droga, passando pela prostituta de Amesterdão, tudo em “In Bruges” é absurdamente pensado ao pormenor.
“In Bruges” não se transformará num clássico, mas se o virem, decerto não darão por perdido o vosso tempo. Fica a sugestão para uma destas frias noites de Inverno...


terça-feira, novembro 25, 2008

Marradas!!

Este post centra-se na tradição do "Touro à corda" na ilha Terceira, Açores
Ora acredito que haja muita gente por aí que, como eu, repudia as touradas, excepção aberta aos grupos de forcados amadores, uma vez que esses sim, procuram o confronto de animal para animal.

É também costume em várias localidades do nosso país se praticarem outras vertentes das touradas, tais como as largadas de touros, entre outros. Eu sou daqueles que rejubilo sempre que o touro consegue levar a melhor e pregar umas belas cornadas na manada de bestas que os rodeia e atormenta. .

Para se rirem um pouco (tirando algumas partes mais chocantes e impróprias para o olho mais frágil) aqui vai uma colecção de vídeos ...



sábado, novembro 08, 2008

Som Nacional - Parte VII

Depois de vários meses de ausência, surgiu finalmente uma nova fornada de bandas nacionais que me parecem dignas de figurar nesta rúbrica. Projectos diferentes uns dos outros, mas cada um com o seu brilho próprio e um futuro assaz promissor. Conheçam-nos…


peixe : avião

Os peixe : avião são uma banda bracarense que editou o seu álbum de estreia “40.02”no passado mês de Setembro. As influências vêm das ilhas britânicas (com os "Radiohead" à cabeça); a poesia, cuidada e em português, dá ao projecto uma personalidade própria.
O próprio Adolfo Luxúria Canibal se refere a eles nestes termos: “Há muito – demasiado – tempo que não somos surpreendidos por uma obra musical. Nada de espantar, porquanto os milagres e o sublime só acontecem muito raramente… Mas quando temos o privilégio de viver um momento desses, como é o caso com a audição de “40 . 02” de peixe : avião, só podemos regozijar-nos e espalhar a boa nova pelos quatro cantos da terra…”.
Vejam o clip de "A espera é um arame", uma nova e boa surpresa...em português.


Os Pontos Negros

Os Pontos Negros, quatro moços na casa dos 20 anos da zona de Sintra são a nova sensação do rock luso e apresentaram recentemente a sua estreia "Magnífico material inútil". Em Julho de 2007, gravaram um EP com cinco canções e disponibilizaram-no no myspace . Semanas depois, foram contactados pela editora Universal. Meses depois, entraram em estúdio para a gravação deste disco…
São Os Pontos Negros por oposição às linhas brancas dos "White Stripes". Mas a sua sonoridade leva a que sejam frequentemente associados aos “Strokes”. O rock dos Pontos Negros é um rock certeiro, orelhudo, refrescante e vagamente romântico. Fiquem com clip de “Conto de Fadas de Sintra a Lisboa”.

The Guys From the Caravan

Esta banda proveniente de Coimbra assenta a sua música numa base pop rock, com alguns laivos de folk, ao mesmo tempo que conferem um tom irónico às histórias que contam. Os The Guys From the Caravan possuem um som agradável e muito easy-listening, e o seu álbum de estreia produzido por Flak, "Noah's Ark of Pain", é apenas e só uma bonita surpresa e isso é muito. Podem ver o clip "The Guy From the Caravan", o tema que deu nome ao projecto.


quarta-feira, outubro 29, 2008

Daniel Mille

Está a decorrer na cidade de Torres Vedras o 5.º Festival de Acordeões do Mundo. No dia 27 de Outubro, a cidade oestina recebeu o músico francês Daniel Mille, acordeonista e compositor, considerado o melhor artista instrumental em Victoires du Jazz 2006. Acompanhado por músicos excepcionais, Alfio Origlio no piano, Jerome Regard no contrabaixo, Pascal Rey na percussão e Julien Atour no trompete, presenteou a plateia com um espectáculo musical primoroso e mágico, com canções subtis e uma sonoridade única.
Segundo o Ouest France, ce musicien unique propose un chant qui sidère par sa perfection soyeuse. Le son de l' accordéon, la façon de tenir une note jusqu' à l' extinction, le suspense qui fait frémir le silence, le choix des compositions toutes portées vers la mélodie qui vous pénètre sous la peau... Nunca tinha ouvido ninguém tocar acordeão de uma forma tão simples, delicada e ao mesmo tempo tão profunda e apaixonante.
Infelizmente, não consegui encontrar vídeos do quinteto ao vivo, mas ficam aqui dois vídeos com temas do último trabalho, Après la pluie, e um vídeo de Daniel Mille no trio Sans Soucis.




Ouçam muita música! Boa música!

Saudações de uma comparsa!

quinta-feira, outubro 16, 2008

FRINGE


Fringe é a nova série de drama criada por J.J. Abrams. Lançada dia 9 de setembro de 2008, é já considerada por muitos a melhor estreia de 2008. Contém aquela pitada de mistério e suspense, explorando a ténue linha entre a ficção científica e a realidade.

J.J. Abrams confessou mesmo para a crítica de televisão que a ideia do roteiro de Fringe surgiu através de outros êxitos televisivos, incluindo: Michael Crichton, The X-Files, Altered States e The Twilight Zone.

A história começa com um vôo internacional em pânico. Todos os tripulantes sofrem o efeito de uma substância misteriosa e batem as botas. A pele das criaturas simplesmente derrete! Deste ponto iniciam-se as investigações que levarão a descobrir que o que aconteceu com o vôo 627 é apenas um pedaço de uma verdade maior e mais chocante. Enfim alguns dos ingredientes necessários para a gente destruir mais algumas das nossas preciosas horas de vida em frente ao ecrã!

Naturalmente podem e devem espreitar o seguinte trailer!





Saudações de um comparsa!

domingo, outubro 05, 2008

Elbicho


Elbicho é uma surpreendente banda formada por sete músicos espanhóis: Miguel Campello (voz), Victor Iniesta (guitarra), Carlos Tato (baixo), Toni Mangas (bateria), David Amores (percussão), Juan Carlos Aracil (flauta) e Pepe Andreu (trompete).
Miguel Campello, natural de Alicante (Este de Espanha) e Victor Iniesta, madrileno, conheceram-se em 2001 na Escola Popular de Música de Madrid. Começaram a tocar juntos, e pouco a pouco foram-se juntando os restantes membros da banda, o que permitiu criar um conjunto perfeito, composto pelas influências mais díspares, donde nasceria a proposta artística de Elbicho. Como os próprios dizem, a música não tem fronteiras. Deste modo, oferecem-nos uma proposta musical diferente e inovadora, que acaba por compor um estilo muito próprio e bastante original. Tendo como raiz o flamenco, fundem ritmos espanhóis, como o tango, a rumba e as “bulerías”, e ritmos afro-latinos ao jazz e ao rock.
A banda espanhola tem já 3 álbuns editados. O primeiro, Elbicho, de 2003, Elbicho II de 2005 e o mais recente Elbicho VII de 2007.
Os vídeos que vos apresento são de concertos ao vivo, "el directo es el hábitat natural de la banda, son músicos de calle y así lo demuestran cada vez que suben a algún escenario".



Ouçam muita música! Boa música!

Saudações de uma comparsa

sábado, outubro 04, 2008

Mad Men

“Mad Men” é mais uma série criada por Matthew Weiner, uma das mentes por trás da conhecida e aclamada “The Sopranos”. Esta série dramática tem o seu epicentro numa das mais prestigiadas agências de publicidade de Nova Iorque (a Sterling Cooper), no início dos anos 60,e é interessante de ver como histórias sobre criativos e executivos publicitários nos conseguem cativar… Tudo gira à volta de Donald Draper (Jon Hamm), um dos génios da empresa e uma figura que depressa associamos à época. Misterioso, calmo, decidido, fascinante e imperfeito, mas, invariavelmente perdido.
Sem rodeios, “Mad Men” é uma grande série. E não o é pelas razões habituais. Apesar do belo argumento, dos diálogos bem escritos, das interpretações competentes, da realização segura ou da banda sonora ideal, o seu maior trunfo é o ambiente. A reconstituição histórica é espantosa. Os cenários, o vestuário, os penteados, a forma de pensar e agir, a tecnologia, enfim, os trejeitos da época, são capturados com uma precisão tremenda, de tal forma que, muito mais que sentir que estamos a ver uma obra ficcional situada nos anos 60, sentimos que estamos nos anos 60. É claro que uma das partes mais divertidas e viciantes desta série está na maneira como Matthew Weiner raspa essa superfície bonita e polida, revelando assim o negrume que vai dentro daquelas vidas perfeitas.
"Mad Men" é um tratado sobre os supostos papéis dos homens e das mulheres, a hipocrisia, a mentira, a ambição - tudo isto servido com razoáveis doses de provocação elegante. Esta bela série é complexa, inteligente, fascinante e até, como tudo, imperfeita. Podem não ficar cativados à primeira, mas com o tempo vão ficar viciados com o fumo constante, o copo na mão em pleno escritório, os adultérios e vidas duplas, a luxúria visual e a atenção milimétrica ao detalhe. Aconselho vivamente, apesar de saber que não será para todos. Ainda de referir que foi a surpreendente vencedora dos Globos de Ouro nas categorias de Melhor Série Dramática e Melhor Actor e que a podem encontrar aqui. Quanto a mim, estou ansiosamente à espera que segunda temporada esteja disponível...
Saudações de um Comparsa


terça-feira, setembro 23, 2008

Até Sempre Rick Wright.

Caros Comparsas

Faleceu no passado dia 15 de Setembro uma das grandes referências da composição e interpretação da música nos últimos 35 anos.
Como profundo admirador da sua excelência e simplicidade reflicto a minha opinião nas palavras do seu companheiro de sempre:

"Ninguém pode substituir o Richard Wright. Ele era meu amigo e parceiro musical. No meio da discussão sobre quem foram os Pink Floyd e o que a banda representou, a gigantesca contribuição do Rick foi constantemente esquecida.
Ele era amável, modesto e reservado, mas a sua voz e forma de tocar eram comoventes e essenciais, sendo componentes mágicos do som mais identificável dos Pink Floyd.
Eu nunca toquei com alguém como ele. A combinação da sua voz e da minha, assim como a nossa telepatia musical, floresceu pela primeira vez em 1971, no álbum 'Echoes'. A meu ver, os maiores momentos da banda aconteceram quando ele estava no auge. Afinal, sem 'Us and Them' e 'The Great Gig In The Sky', as quais ele compôs, o 'Dark Side Of The Moon' não teria funcionado. Sem o seu toque de subtileza, o 'Wish You Were Here' não teria sido tão bem-sucedido.
Nos anos seguintes, por diversas razões ele perdeu-se em alguns momentos, mas no início dos anos 90, com o 'The Division Bell' asua vitalidade, o seu brilho e senso de humor regressaram. Quando apareceu na minha turnê em 2006, a recepção do público foi muito edificante, e o seu enorme espanto quando foi aplaudido de pé (aplausos que não nos surpreenderam) é uma marca de sua modéstia.
Tal qual o Rick, não acho fácil expressar meus sentimentos na forma de palavras, mas eu adorava-o e sentirei tremendamente sua falta."

David Gilmour
segunda, 15 de setembro de 2008.

Deixo-vos então com os vídeos de quatro grandes hinos que têm o selo da criatividade de Richard Wright : "Breaktrough" do seu álbum de originais "Broken China"; parte da inesquecível "Echoes" na sua actuação com David Gilmour em 2007 e dois pequenos documentários sobre os temas "The great gig in the sky" e "Us and Them" pertencentes ao álbum "The Darkside of the Moon".

Saudações de um Comparsa

sábado, agosto 30, 2008

Tarantino's Mind

Durante mais uma das minhas deambulações pela blogosfera, deparei-me com esta pequena pérola protagonizada pelos actores brasileiros Selton Mello e Seu Jorge (Cidade de Deus, The Life Aquatic). E sendo um grande fã de Tarantino, vejo-me na obrigação de a partilhar com vocês e, ao mesmo tempo, de iniciar uma nova rúbrica. Comprometo-me então a procurar e dar a conhecer mais curtas-metragens disponíveis no Youtube.
Para já, vejam um exemplo do que se pode fazer com pouco dinheiro, aliando o talento à criatividade... Tenho a certeza que esta curta fará as delícias de qualquer cinéfilo que se preze e quem não conhecer os filmes que são referidos, aconselho a sua rápida visualização, pois fazem parte da história do melhor cinema dos últimos quinze anos.
Apreciem lá esta conversa Tarantinesca sobre os filmes do Tarantino...

terça-feira, julho 29, 2008

Led Zeppelin

Absolutamente genial é uma pálida afirmação para descrever o incrível legado daquele que é um dos colectivos mais carismáticos e lendários da história do rock. Os Led Zeppelin surgiram em 1968 e mudaram a história da música para sempre, e quase quatro décadas volvidas são ainda hoje uma referência para as novas gerações de músicos…

Nada nem ninguém conseguiu ser tão emblemático dos anos 70 como os Led Zeppelin. No entanto, o engenho e a ambição que caracterizaram a banda britânica têm origem nas transformações das décadas anteriores. Jimmy Page começou a tocar guitarra nos anos 50, e na década seguinte, era já um guitarrista importante na cena pop londrina. Ganhou reputação ao tocar para nomes como “The Kinks”, “The Who”, “Herman’s Hermits” e “Donovan”, entre outros. Em 1966, juntou-se a Jeff Beck nos “Yardbirds”. No entanto, a banda convivia mal com o temperamento difícil de Beck, e, em meados de 1968, todos os membros haviam já abandonado o grupo. Page comprou o nome da banda e começou a procurar novos músicos de modo a conseguir cumprir um contrato feito para a realização de concertos na Escandinávia. O vocalista Robert Plant, conhecido pelo seu trabalho no grupo “The Band of Joy”, foi recrutado, trazendo com ele o amigo baterista John Bonham. O baixista John Paul Jones viu um anúncio no jornal e sendo já conhecido de Page, rapidamente se juntou ao grupo. Após alguns concertos como “The New Yardbirds”, a banda mudou o nome para Led Zeppelin, após sugestão de Keith Moon, baterista dos “The Who”. Estava assim encontrada a formação de uma das bandas mais talentosas e importantes de todos os tempos.

Em 1968, o grupo editou o seu primeiro álbum Led Zeppelin. Esse disco resultava de uma combinação entre o blues, o rock e influências orientais com amplificações distorcidas, o que o levou a tornar-se um dos pilares do surgimento do heavy metal, embora Plant tenha declarado injusta esta classificação, já que aproximadamente um terço de sua música era acústica. No final dos anos 60 e ínicio dos anos 70 a palavra heavy metal tinha uma conotação pejorativa, o que fez com que os artistas rotulados como heavy metal preferissem outros nomes como heavy rock, ou simplesmente rock and roll.

Mantidos à margem e constantemente insultados pela imprensa, o início de carreira dos Led Zeppelin não foi fácil. Classificados de meros salteadores do legado do blues, o público esgotava lotações onde quer que o quarteto actuasse e aí, apenas a música interessava. O imediato sucesso comercial do primeiro disco foi o pontapé de saída para a carreira da banda, especialmente no EUA, onde eles haveriam de actuar frequentemente, e onde as suas vendas de discos apenas foram suplantadas pelos “The Beatles”. Gravaram nove álbuns de originais até 1982, onde exploraram novos caminhos e derrubaram fronteiras, inventando novos conceitos.

Convictos de que representavam um novo mundo, uma nova era, os Led Zeppelin desenharam a fronteira entre os valores arduamente conquistados da década de 1960 e os prazeres da vida mundana e irresponsabilidade que caracterizaram os anos 70. Se a popularidade da banda em palco era impressionante, a sua fama pelos excessos era ainda maior. Eles viajavam num jacto particular, alugavam pisos inteiros de hotéis, e tornaram-se objecto de algumas das histórias mais famosas, envolvendo danos materiais a quartos de hotel, aventuras sexuais e abuso de drogas. Em 1980, John Bonham morreu asfixiado pelo próprio vómito numa banheira, pondo fim à carreira dos Led Zeppelin e ao mesmo tempo contribuindo para o engrandecimento do mito e da lenda em que se tornaram…
Talentosos, complexos, ávidos, belos e perigosos, os Led Zeppelin foram uma das bandas mais consistentes do século XX em matéria de composição e actuação, apesar de tudo o que tiveram de superar, incluindo eles próprios. Os Led Zeppelin tocavam para um tempo novo, e, após três décadas e meia, a sua música está tão viva quanto antes. O som da banda britânica tomou-nos de assalto e elevou-se a um território que parece não ter fim.
Aqui fica a minha homenagem à maior banda de sempre…




domingo, julho 06, 2008

The Shiftas

Caros comparsas,

… porque há bandas portuguesas que merecem ser ouvidas pareceu-me pertinente tornar este espaço numa plataforma de divulgação de novos valores da música nacional.

Por isso, desta vez o falcão voa de terras beirãs até ao oeste português para apresentar The Shiftas: em Portugal, no Oeste Profundo, as armas dos Shiftas são os acordes selvagens, o grito da revolta, o Rock!

Os Shiftas são uma banda portuguesa formada por quatro jovens do Sobral de Monte Agraço e contam já com um grande reportório de músicas originais, com fortes influências do blues, digno de ser gravado e editado em cd. Convido-vos assim a ouvir três dos temas desta banda portuguesa: A Lucy Nation, Dead Man Walking e Squeeze Me, disponíveis no myspace ou no blogue. De qualquer forma, deixo-vos aqui para ver e ouvir o vídeo da música Dead Man Walking.

Ouçam muita música, boa música...

Saudações de uma Comparsa!

segunda-feira, junho 23, 2008

Festival Serra da Estrela 2008


Caros Comparsas,
Foi esta semana divulgado o cartaz completo do 4º Festival da Serra da Estrela que se realizará nos dias 17, 18 e 19 de Julho e sendo este o único evento do género na nossa região, sinto-me, mais uma vez, na obrigação de o divulgar neste nosso espaço.
Inserido no Parque Nacional da Serra da Estrela, este ano o Festival pretende, através da música, transmitir uma mensagem, um objectivo... consciencializar e sensibilizar os participantes para a protecção do meio ambiente. Nos três dias do festival, a organização vai apostar numa atmosfera de respeito ambiental e em actividades informativas e formativas sobre as questões e preocupações ambientais com o objectivo de passar a mensagem da ecologia.
Este evento surgiu do alinhamento de ideias de um grupo de jovens de Valhelhas com o intuito de dinamizar social e culturalmente esta zona da Serra da Estrela através de um acontecimento que dá a conhecer um 'interior' que, embora longe dos grandes centros, não deixa de ser uma zona empreendedora e aberta a novas iniciativas. Toda a envolvência natural e as condições físicas e estruturais de Valhelhas são uma mais valia, que só por si merecem a nossa visita. A aldeia fica situada no parque natural da Serra da Estrela, a 20km da Guarda e da Covilhã e dista 15 km da auto-estrada A23 (cliquem no mapa para ampliar).
Nesta edição a estrutura base do Festival é, mais uma vez, mantida e as tasquinhas regionais não podiam faltar ainda com mais sabores e aromas, assim como a zona de artesanato. Um parque radical, a praia fluvial cheia de actividades aquáticas, assim como peças de teatro e workshop’s preencherão as tardes do público presente.
Quanto ao programa musical, destaco a noite de Sexta, onde poderemos assistir à actuação de três das melhores bandas do novo rock português (já todas mencionada aqui no blog): Linda Martini, Dapunksportif e os Vicious Five. Apesar desta ser a noite mais ansiada por mim, vamos ter também a oportunidade de ver concertos de outros nomes importantes do panorama musical português e que com certeza agradarão a todo o tipo de públicos: Coldfinger, Buraka Som Sistema, Tora Tora Big Band e Kussondulola, entre outros, farão também parte da festa. É também de destacar o início da internacionalização deste nosso festival: este ano teremos já a participação de duas bandas espanholas: The Right Ons e 6pm. Como habitual, todas as noites serão encerradas pelos incansáveis Dj’s na zona after-hours.
Apareçam, pois o festival vale pelo seu todo e não apenas pela música, podem desfrutar das belas paisagens e também da praia fluvial à porta da tenda…

sábado, junho 14, 2008

Deolinda


Os Deolinda são um novíssimo e original conceito de música popular de Portugal inspirado pelo fado e pelas raízes tradicionais da canção portuguesa. Formados em 2006 por 4 jovens músicos com experiências musicais diversas (jazz, música clássica, música étnica e tradicional), procuram, através do cruzamento das diferentes linguagens e pesquisa musical, recriar uma sonoridade de cariz popular que sirva de base às composições originais do grupo. O recente sucesso deste grupo deve-se em parte, em ter encontrado uma forma nova, original e divertida de cantar o que o fado canta, sem a tradicional guitarra portuguesa e através de uma personagem fictícia chamada Deolinda.

Acabam de lançar o seu disco de estreia intitulado Canção ao Lado, onde apresentam catorze canções que têm tanto de boa disposição, como de melancolia e de seriedade, onde contam pequenas histórias com personagens típicas portuguesas e cenários típicos do fado, num Portugal moderno e cosmopolita.

Formados pelos guitarristas Luis e Pedro Martins, pelo contrabaixista Zé Pedro Leitão e pela vocalista Ana Bacalhau, os Deolinda são claramente um projecto de fusão que interliga fado, pop e jazz. Com o fado como mira, mas acertando-lhe de propósito um pouco ao lado, os Deolinda são mais uma lufada de ar fresco na nova música portuguesa.

Saudações de um Comparsa



quinta-feira, maio 15, 2008

Dapunksportif



Fresquinho! Fresquinho! Ai está, o novo álbum, Electro Tube Riot. Viu a luz do dia no dia 21 de Abril, este menino produzido por Paulo Franco/João Guincho (ambos voz e guitarra) e Marco Jung, e conta com a participação de vários convidados: Zé Carlos, Fred e Kalú (sim esse, o dos Xutos e Pontapés!) responsáveis pela secção rítmica. Já na sua estreia Ready!Set!Go! se notava a força do rock, e neste novo trabalho eles não fogem a ele, pelo contrário. Também não fogem a comparações, os Queens Of The Stone Age são forte influência para estes moçoilos de Peniche, tal como Motorhead e Monster Magnet. Para mim é uma comparação óbvia, mas boa, excelente até. E porque não? São umas influências bemssíssimas! Com Electro Tube Riot a banda deu um passo em frente, mais maduros, coesos, com um som mais trabalhado, principalmente a nível de arranjos de cordas e voz. Em 11 temas "a gasolina dá lugar à electricidade, as guitarras combatem o asfalto, a vibração rock é dos anos 70 com espírito hard-rock/metal da década seguinte", palavras dos próprios.
Ainda não conheces? De que estás à espera?
Fiquem com o clip do 1º single, Friends (Come and Go).
Hasta. Aquele abraço!

terça-feira, abril 08, 2008

Californication

Californication é a série que marca o regresso ao êxito de David Duchovny, o popular Fox Mulder de Ficheiros Secretos.

Californication conta a história de Hank Moody, um escritor com apenas um livro de sucesso e em crise de inspiração. A fala arrastada e de boca fechada de David Duchovny encaixou-se perfeitamente na personagem principal, ambivalente, talentoso e instável, que navega numa sinuosa jornada de álcool, vícios e mulheres, mas que almeja, ao mesmo tempo e sobretudo, restabelecer a antiga relação amorosa com sua ex-companheira, com a qual tem uma filha pré-adolescente.

A nova série da Showtime (que nos oferece também Weeds, The L Word ou Dexter) é uma mistura de humor e de drama, com ligeira inclinação para o primeiro e faz dos diálogos o seu grande forte. Fértil em cenas eróticas, algumas de sexo explícito, a série já fez correr rios de tinta a favor e contra e permitiu a David Duchovny ganhar o Globo de Ouro na categoria de Melhor Actor em Série de Comédia pelo seu trabalho na interpretação do escritor nova-iorquino em profunda crise pessoal e criativa em Los Angeles.

Californication pode não ser uma série imperdível, mas é uma série leve, bem disposta e viciante, com um sentido de humor negro e uma fina ironia que surpreendem e agarram o espectador, o que nos faz querer ver, de seguida, dois ou três dos seus curtos episódios. Em Portugal, passa no canal FX da TvCabo, mas é também uma das próximas apostas da RTP2. Ou então, podem encontrá-la aqui.

Saudações de um Comparsa

terça-feira, março 11, 2008

Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro da Fleet Street


Sweeney Todd, o Terrível Barbeiro da Fleet Street, realizado por Tim Burton, é uma adaptação cinematográfica de um espectáculo estreado na Broadway em 1979, ao qual o realizador permanece fiel.

Tim Burton transporta para o grande ecrã um dos grandes mitos urbanos londrinos – a história de um barbeiro inglês que no início do século XIX se dedicava a assassinar os seus clientes. Fazendo parte de uma tradição oral, a história é referida por Charles Dickens no seu livro Martin Chuzzlewit (1843), sendo logo a partir de finais do século XIX representada em vários palcos, dando lugar ao primeiro filme (ainda mudo) em 1926, feito em Inglaterra.

Em 1973, o dramaturgo britânico Cristopher Bond escreve a peça Sweeney Todd, na qual acrescenta o lado luminoso do personagem, o Benjamin Barker, separado da mulher e da filha por um juiz corrupto, cuja separação e exílio o faz alimentar-se por uma enorme sede de vingança que se perpetua em Sweeney Todd. O enredo ganha assim «uma dimensão social, com críticas à desigualdade de classes, à justiça corrupta e à voracidade desumana do capitalismo industrial galopante» (Eurico de Barros - DN).

Stephen Sondheim e Hugh Wheeler transportam a história para o palco da Broadway em 1979 e, apesar das primeiras reacções confinadas de horror a tanta violência em palco, Sweeney Todd esteve quase dois anos em cartaz.

Sam Mendes teve o projecto de realização do filme sobre Sweeney Todd com Russell Crowe, mas felizmente desistiu em 2006. Digo felizmente porque acho que ninguém melhor do que Tim Burton adaptaria tão bem esta história para cinema, nem ninguém melhor do que Johnny Depp daria vida à personagem do sanguinário barbeiro.

Deste modo, das tesouras às navalhas, chega-nos uma nova personagem interpretada por Johnny Depp, o terrível barbeiro da Fleet Street, Sweeney Todd. Parecendo à primeira vista apenas mais um filme de Tim Burton, que nem sequer se preocupa em escolher novos actores – esta é a 6.ª participação de Johnny Depp em filmes de Tim Burton; sendo a 5.ª de Helena Bonham Carter, esposa do próprio realizador – os seus actores de elite provam uma vez mais a razão da sua preferência. É que Tim Burton decide realizar um musical e não precisa preocupar-se em mudar de actores, porque eles até servem para cantar… E cantam muito bem, ao contrário do que tenho por aí lido. Stephen Sondheim, cuja composição musical é absolutamente fantástica, participa no projecto do filme e ele próprio aprovou, depois de uma audição, a escolha dos actores.

Johnny Depp prova uma vez mais que é um grande actor, os papéis dos personagens dos filmes de Tim Burton são uma perfeita simbiose com Johnny Depp. De facto, é difícil imaginarmos outro actor a fazer os mesmos papéis com tanta perfeição. Sou, sem dúvida, uma grande fã de Johnny Depp e devo dizer que é com uma enorme satisfação que o tenho visto crescer no grande ecrã, desde a sua interpretação em Eduardo Mãos de Tesoura, o primeiro encontro entre Burton e Depp. Como refere Luís Miguel Oliveira (Público), «física e figurativamente, Sweeney é um Eduardo mais velho (com uma madeixa branca no cabelo preto), mais triste e mais violento, que se completa quando tem nas mãos uma navalha de barbear». Se esta interpretação não foi o auge (Depp foi nomeado para o Óscar de Melhor Actor Principal e recebeu o Globo de Ouro por Melhor Actor de Comédia/Musical), a próxima certamente me fará cair da cadeira.

Helena Bonham Carter interpreta o papel de Mrs. Lovett, cozinheira das piores empadas de Londres e cúmplice de Sweeney Todd. O filme conta também com os papéis de Sacha Baron Cohen (Borat), no papel do Signor Pirelli, e de Alan Rickman, o juiz corrupto.

Como refere Eurico de Barros, Sweeney Todd foi filmado «num negrume de carvão que infiltra a cidade e mancha os corações, só contrariado [pelas cores do passado feliz de Benjamin Barker e] pelos chuveiros de sangue das gargantas abertas pelo barbeiro». Deste modo, facilmente se percebe a progressão da terceira cor do filme: o vermelho do sangue, que invade a tela, contrastando com o preto e o branco dominantes, tornando os últimos vinte minutos do filme absolutamente inesquecíveis.





Para os interessados em prémios cinematográficos (que não influenciam em nada a minha preferência, daí referi-los em último lugar e a letras mínimas), Sweeney Todd, além da nomeação para Óscar de Melhor Actor Principal e Melhor Figurino, esteve nomeado para os Globos de Ouro nas categorias de Melhor Realizador Comédia/Musical e Melhor Actriz, e não só recebeu o Globo de Ouro de Melhor Actor, mas também de Melhor Filme Comédia/Musical.

Saudações de uma Comparsa

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Instrumentos Musicais: o Oboé e o Clarinete;

"Ser Músico é trabalhar o instrumento todos os dias, é pôr-se permanentemente em questão, é duvidar. É a instabilidade feita estabilidade. Um dia encontra-se, mas no dia seguinte é preciso voltar a procurar. Há conquistas mas nada é definitivo. A música é um fantástico instrumento de trabalho sobre nós próprios. Muito exigente, mas que dá prazer!"

Sophia Domancich


Caros Comparsas

Variando um pouco a tendência da exposição individual de cada instrumento, resolvi expor de uma só vez dois instrumentos cujo timbre é muito semelhante e que muitas dúvidas provoca na identificação auditiva de cada um. Tentarei clarificar-vos sobre as diferenças entre o clarinete e o oboé. Antes disso, algumas noções essenciais:
  • Timbre - Característica do som que nos permite distinguir fontes sonoras que produzem a mesma frequência. [ex. a nota Ré tocada numa Harpa tem a mesma frequência que a nota Ré (com altura semelhante) tocada numa Marimba, no entanto a diferenciação do instrumento é-nos permitida através do seu diferente timbre];
  • Instrumento Transpositor - Instrumento cuja nota escrita (na partitura) é diferente da nota verdadeira, isso por causa da afinação própria do instrumento; sendo assim é necessário que haja uma transposição de notas para que o referido instrumento toque no tom real da música;
E também o sistema de classificação dos instrumentos criado por Hornbostel e Sachs :
  • Idiofones - Instrumentos cujo som é produzido pelo próprio corpo do instrumento. É o próprio corpo do instrumento que vibra para produzir o som, sem a necessidade de nenhuma tensão( Engloba alguns instrumentos de percussão de altura indefinida e todos os de percussão de altura definida.)
  • Membrafones - Instrumentos cujo som é produzido por uma membrana esticada, ou seja, produzem som através da vibração dessa mesma membrana( Engloba só instrumentos de percussão de altura indefinida).
  • Aerofones - Instrumentos cujo som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no (ou pelo) instrumento ( Engloba todos os instrumentos de sopro, a voz humana e os órgãos de tubos).
  • Cordofones - Instrumento cujo som é produzido pela vibração de uma corda tensionada( Engloba todos os instrumentos de cordas friccionadas, dedilhadas e percutidas).
  • Electrofones - Instrumento cujo som é produzido a partir da variação de intensidade de um campo electromagnético, ou seja, o som é produzido por meios mecânicos e depois amplificado e/ou modificado electronicamente ( Engloba todos os instrumentos electrónicos e electromecânicos.
III - OBOÉ

Membro da classe dos Aerofones, o oboé é um instrumento de sopro pertencente à família das madeiras. Peculiar pela sua forma ligeiramente cónica este instrumento faz parte do grupo restrito de sopros que possui na embocadura uma palheta dupla. A palheta é constituída por duas lâminas encostadas uma à outra e fixadas na sua extremidade inferior por um tubo de metal e cortiça, que é posteriormente fixada na extremidade superior do oboé. O executante prende a palheta nos lábios e ao soprar faz com que as duas lâminas vibrem e batam uma na outra proporcionando-nos aquele timbre anasalado e encantador.
Sendo presença constante na orquestra, o oboé é também requisitado como instrumento solista.
Fiquem então com o tema "Gabriel's Oboe" composto e dirigido por Enio Morricone e que faz parte da banda sonora original do filme "The Mission" de 1986 protagonizado por Robert de Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson. De seguida poderão ver e ouvir o oboé num registo diferente interpretado pelo consagrado oboísta Jean- Luc Fillon, segue-se a abertura da suite do bailado "O Lago dos Cisnes" de Tchaikovsky onde o oboé assume o destaque da melodia durante o primeiro minuto. Para terminar um pequeno slide de imagens sobre o oboé e os seus constituintes.






IV - CLARINETE

Também pertencente à classe dos Aerofones e à família dos sopros de madeira, o clarinete apresenta-se quanto à forma com um tubo mais cilíndrico. Mas a grande diferença em relação ao oboé consiste na palheta (a do clarinete é simples e incluída numa boquilha) e na extensão das notas (o oboé possui a menor extensão de notas entre os sopros, enquanto a clarinete, a maior) e no seu timbre que é mais grave e mais aveludado que o do oboé. Como referi anteriormente o clarinete tem uma embocadura de palheta simples, esta ao ser soprada faz com que a palheta vibre contra a boquilha. O clarinete (ao contrário do oboé) é um instrumento transpositor e ocupa posição de destaque nas orquestras actuais devido ao seu poder sonoro e à sua extensão de notas.
Existem vários tipos de clarinete distribuídos por diferentes afinações e tamanhos.
Da esquerda para a direita temos então a requinta, o clarinete soprano (2, 3 e 4), o clarinete alto, o basset horn, o clarinete baixo e o clarinete contrabaixo. Deixo-vos então com os vídeos: no primeiro poderão visionar um trio com clarinete, violoncelo e piano a interpretar a peça "Invierno Porteño" de Astor Piazolla; no segundo um sexteto a interpretar o célebre " Tico-Tico no Fubá" em três tipos de clarinete; o terceiro traz mais uma prestação dos Apocalypse Marimba Plus onde poderemos apreciar o registo do basset horn; para terminar uma verdadeira orquestra de clarinetes a interpretar a peça "Rikudim" do compositor belga Jan van der Roost.

Saudações de um Comparsa


sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Atonement - Expiação


Este filme, estreado entre nós durante o mês de Janeiro, é um bom exemplo da bela colheita cinematográfica deste ano.
Primeiramente apresentado no Festival de Veneza, o novo filme de Joe Wright (que nos trouxe em 2005 uma nova versão de “Orgulho e Preconceito”) é um dos grandes filmes deste novo ano, e ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme em Drama. Não há razões para menos, pois estamos perante um título de enorme poder visual e força narrativa, bem servido de excelentes interpretações.
Baseado no aclamado romance de Ian McEwan, Joe Wright agarra todo o potencial desta obra literária, e transforma-a num filme possuidor de uma qualidade temática invejável, muito bem complementada pela sua segura realização, vestida de momentos artísticos de grande relevância.
“Atonement” é um drama familiar e romântico que a dada altura se cruza com o filme de guerra e que mantém uma certa aura que apetece classificar como “clássica” mas que não o é de todo. Em termos narrativos, “Atonement” é muito menos linear do que seria previsível neste tipo de filmes. O tempo é bastante fragmentado, com vários flashbacks que repetem a mesma acção de perspectivas diferentes. Mas comecemos pelo princípio. "Atonement" tem dois momentos bem distintos. Na primeira parte estamos perante um filme de época à "Orgulho e Preconceito". Aqui deparamos-nos com as inquietações sociais de uma família da alta sociedade britânica. É tudo muito bem filmado e os cenários e a fotografia são exemplares. Depois entramos em algo que toca no campo da tragédia épica em tempos de guerra. Uma espécie de "Paciente Inglês", magistralmente filmado e interpretado e com um desfecho poderoso que vem dar todo um novo sentido à primeira parte.
Toda a narrativa é construída sobre personagens de enorme peso humano, e Keira Knightley volta a demonstrar o porquê de ser uma das mais importantes actrizes da actualidade, acompanhada do sólido James McAvoy (que alguns conhecerão da excelente série britânica “Shameless” da SIC Radical ou de O Último Rei da Escócia), um condenado inocente que carrega em si um pecado que não lhe pertence.
Dotado de uma experiente e inteligente realização, uma montagem carregada de suspense, um argumento excepcionalmente bem escrito e de prestações bem conseguidas, “Atonement” é desde já um dos grandes acontecimentos de 2008, onde há ainda lugar de destaque para a fabulosa banda sonora de Dario Marianelli, e para a fotografia de Seamus McGarvey, que capta tão sobriamente a ténue linha entre a esperança e o medo que as imagens nos revelam. Um pequeno conselho: estejam atentos a uma verdadeira lição de "como realizar um épico", no momento em que McAvoy chega à praia francesa de Dunquerque.
Numa semana como esta, tenho que referir as sete nomeações para Óscar que esta película arrecadou, incluindo Melhor Filme. É um filme que aconselho vivamente, que pode não ficar nos vossos preferidos (não ficou nos meus...), mas que toda a gente deve ver, pois isto é bom cinema!




quinta-feira, fevereiro 14, 2008

E os nomeados são...




Deixem as vossas previsões e preferências até dia 24. Bons filmes para todos.
Saudações de Um Comparsa

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford


Não é todos os dias que nos chega um filme como “O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford”, a segunda obra de Andrew Dominik.
Cruel assassino para uns, herói popular para outros, Jesse James é, aos 34 anos, um carismático criminoso acusado de ter morto pelo menos 17 pessoas. Em 1881 a maioria do gang original de Jesse James encontra-se morta ou presa. Para os seus golpes, Jesse e o seu irmão Frank recrutam os irmãos Ford: Charley e Robert, um ambicioso jovem de 19 anos que idolatra (e inveja) James...
Embora o filme não seja de um todo um veículo para os seus protagonistas, as prestações de Brad Pitt e Casey Affleck são tudo menos secundárias. Brad Pitt consegue compor um Jesse James de uma ambiguidade misteriosa, entre o cruel e o atencioso, o violento e o terno. Uma figura maior, que recordamos pela postura serena no mal e no bem. Já Casey Affleck é o actor do filme, que certamente revelará ao mundo o excelente actor que ele é. O seu Robert Ford é magnífico, acompanhando Jesse com um olhar embevecido e um sorriso lânguido, com um misto perfeito de ódio e amor. A sua expressividade é impressionante, sobretudo nos grandes planos.
A começar nas interpretações, passando pela realização e terminando na fotografia, O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford tem todos os condimentos para ser um dos melhores do ano. Quem tiver o intuito de ver o filme, por favor, não pense que vai visualizar muitas cenas de grande acção ou grandes perseguições, pois isso não se sucede. O olhar de Dominik incide nos mais pequenos pormenores, fornecendo ao espectador uma visão extraordinária sobre todos os elementos em cena, naquele que é um dos melhores exercícios dos últimos tempos sobre a importância do ambiente. A câmara demora-se, convida o espectador à contemplação. Dominik não tem qualquer problema em atrasar a acção, só para que possamos entrar na pele dos intervenientes. Esta película conquistou assim duas nomeações para os Óscares da Academia: para Melhor Fotografia (realmente notável do talentoso Roger Deakins) e, claro, para Casey Affleck na categoria de Melhor Actor Secundário (que vai competir com Javier Bardem, que tem açambarcado todos os prémios com o seu trabalho em No Country For Old Men).

Deslumbrante western que não o é, e um filme biográfico que está longe de o ser. Antes uma visão poética de um acontecimento marcante que recorre a imagens deslumbrantes, íntimas e intensas, e a interpretações notáveis. Como uma evocação do estreito elo entre crime e fama, esta película faz uma observação histórica da cultura americana e da sua obsessão com a celebridade. A forma: visualmente arrebatadora.






P.S. Esta é a altura em que os melhores filmes do ano chegam a Portugal. E todos ao mesmo tempo... Podemos encontrar nas salas nacionais Sweeney Todd de Tim Burton (Charlie e a Fábrica de Chocolate, Eduardo Mãos-de-Tesoura), Expiação de Joe Wright (Orgulho e Preconceito), No Vale de Elah de Paul Haggis (Crash), The Darjeeling Limited de Wes Anderson (Life Aquatic), Jogos de Poder de Mike Nichols (Closer) e O Lado Selvagem do conhecido Sean Penn. Nas próximas semanas, vão estrear aqueles que são, para mim, os filmes mais esperados do ano: There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson (Magnolia, Boogie Nights) e também No Country For Old Men dos irmãos Coen (Fargo,The Big Lebowski). Outras estreias aguardadas são Michael Clayton do estreante Tony Gilroy, The Savages de Tamara Jenkins e do muito elogiado Juno, que eu já tive oportunidade de visionar...

Como podem ver, há neste momento películas de boa qualidade para todos os gostos. Com tempo, irei falar daquelas que já me passaram pelas mãos.

Saudações de Um Comparsa

quinta-feira, janeiro 24, 2008

The No Smoking Orchestra

Caros Comparsas

Zabranjeno Pusenje na antiga língua servo-croata, nasceu na cidade bósnia de Sarajevo há 27 anos uma das mais hilariantes bandas da actualidade.
Tendo sido desde o início uma banda irreverente e intervencionista que se apoiava na satirização dos políticos jugoslavos da era pós Tito, os The No Smoking Orchestra apadrinham em 1986 o elemento que posteriormente os catapultou para a fama e reconhecimento internacional: o realizador Emir Kusturica. Sem dúvida uma união perfeita já que participaram na banda sonora do filme "Gato Preto, Gato Branco" e compuseram a banda sonora do filme "A Vida é um Milagre" ,ambos realizados por Kusturica. Unindo a música tradicional cigana dos balcãs a uma espécie de rock/punk, os The No Smoking Orchestra fazem dos seus espectáculos ao vivo uma verdadeira paródia, contagiando toda a plateia com a sua originalidade, loucura, boa disposição e sentido de humor.
Liderada pelo irreverente vocalista Dr. Nelle Karajlic, a banda conta ainda, para além de Emir Kusturica, com o compositor e virtuoso violinista Dejan Sparavolo, e reúne ainda sonoridades de instrumentos como o acordeão, o saxofone, o sousafone.
Para ver e ouvir dia 25 de Janeiro no Coliseu do Porto e dia 26 de Janeiro no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Fiquem com alguns vídeos.

Saudações de um Comparsa


domingo, janeiro 20, 2008

Som Nacional - Parte VI

No tão ansiado regresso desta rubrica, apresento três propostas completamente distintas da nova música portuguesa. Espero que gostem...

Sean Riley & the Slowriders

Este grupo conimbricense lançou no final de 2007, “Farewell”, o seu álbum de estreia. A força de Sean Riley & the Slowriders resulta da perfeita junção do próprio Sean Riley (voz e guitarra) com Bruno Simões (baixo) e Filipe Costa (órgão, harmónica e bateria). Sean Riley, um songwriter com uma maturidade invulgar para um estreante, coloca a força da sua composição na simplicidade das letras, nas guitarras acústicas e na intensidade dos elaborados arranjos criados pelos Slowriders. Baseando-se num estilo Folk-Rock, existiram desde logo associações imediatas a Bob Dylan, Tim Buckley e Leonard Cohen. “Farewell” é um disco coeso e inspirador onde todos os instrumentos parecem estar no lugar certo, o que nos vai fazer seguir este grupo com muita atenção nos próximos tempos.


Slimmy

Slimmy é o projecto do português Paulo Fernandes. “Beatsound Loverboy, o seu primeiro álbum, tem ambição internacional e um som que de lusitano tem apenas o bilhete de identidade. Slimmy é natural do Porto, mas criou em Londres a sua maqueta de apresentação e que por sua vez conseguiu notoriedade por parte da imprensa Inglesa. Na sua primeira aventura discográfica, Slimmy explora o seu mundo distorcido e louco de tensão sexual e amorosa, com vocalizações estridentes e o uso de falsete, batidas explosivas e guitarras cheias de raiva. Uma mistura que combina estilos como o electro, rock, disco, house, techno e pop. Slimmy já conseguiu chamar a atenção de alguns meios norte-americanos tendo um tema na banda-sonora da série CSI Miami.


Donna Maria

Donna Maria são um trio da grande Lisboa com fortes influências da música electrónica e uma alma profundamente portuguesa bem patente no recurso a instrumentos tradicionais, como a guitarra portuguesa ou o acordeão. “Música para ser Humano" é o seu segundo álbum e marca a sua entrada numa editora multinacional. Autores de uma música onde fado e pop se confundem, os três músicos são acompanhados por convidados como Rui Veloso, Raquel Tavares, Rão Kyao, Júlio Pereira e Luís Represas. A voz é um importante trunfo dos Donna Maria, Marisa Pinto canta em português de maneira cativante e convincente. É uma vocalização que combina na perfeição com a junção de ambientes sonoros electrónicos com arranjos tipicamente lusos que só a guitarra portuguesa e o acordeão conseguem transmitir.