sexta-feira, outubro 26, 2007

Almost Famous - Quase Famosos

É um daqueles filmes que ficam, que vemos repetidamente e não nos cansamos. “Almost Famous” é um retrato nostálgico e tocante mas sempre bem-humorado, sobre o mundo do jornalismo e do Rock and Roll dos anos 70. O filme de Cameron Crowe é uma película sobre um grupo de música que nunca existiu (os “Stillwater”), mas é, simultaneamente, um filme autobiográfico do realizador.

O filme passa-se no início da década de 70. William Miller, um adolescente de 15 anos, é um aspirante a jornalista de Rock and Roll desde que ouviu “Sparks” dos «The Who» e descobriu e se apaixonou pela Música. Depois de escrever artigos sobre música para um jornal de bairro, acaba por receber um convite inesperado da consagrada revista "Rolling Stone", que o encarrega de fazer uma reportagem sobre os “Stillwater”. O seu trabalho é capturar aquele momento muito especial, único e irrepetível no mundo da música, em que uma banda quase desconhecida está a um passo de se tornar famosa. “Almost Famous” é a história dessa reportagem que se vai desenrolando durante uma tournée dos “Stillwater”. Mas nessa espantosa viagem pelo país real, William vai passar de repórter neutral e objectivo, a observador participante na dinâmica do próprio grupo. Os “Stillwater”estão no limiar do sucesso, mas William, aos 15 anos, está a viver um momento mágico da sua vida.

Ao contrário da maioria dos realizadores de filmes sobre o mundo do rock, que só o conheceram enquanto espectadores de concertos, Cameron Crowe, antes de ser cineasta e de ter feito “Almost Famous”, foi o mais jovem jornalista de rock americano, tendo-se tornado nos anos 70, num dos nomes de destaque da "Rolling Stone". Não admira, portanto, que “Almost Famous”, onde Crowe foi beber às suas memórias de jovem jornalista, e cuja personagem principal é o seu «alter ego», desminta todos os estereótipos do excesso, da revolta e da auto-destruição típicos dos filmes sobre bandas rock. Crowe consegue falar de sexo, drogas e Rock and Roll num tom e a uma escala «normal», que tudo humaniza, tudo desmitifica e tudo torna credível à primeira impressão.

Os actores são, sem excepção, sublimes, nos papéis principais e secundários. De Billy Crudup a Jason Lee, de Patrick Fugit a Kate Hudson, passando por Philip Seymour Hoffman e, claro, a grande Frances McDormand. E os fãs dos gloriosos anos 70 podem recordar na banda sonora temas dos «Led Zeppelin», «The Who», «Elton John», «Black Sabbath», «Yes», «Simon and Garfunkel», «The Beach Boys», «David Bowie», entre muitos outros nomes que fizeram história.

Ganhou o Óscar de Melhor Argumento Original, além de ter recebido outras 3 nomeações: Melhor Actriz Secundária (Frances McDormand e Kate Hudson) e Melhor Edição. O Argumento de “Almost Famous”, escrito por Cameron Crowe, é baseado nas suas memórias de quando acompanhou parte da tournée americana dos «Led Zeppelin». Aliás, os “Stillwater” são uma mistura de três grupos que o realizador Cameron Crowe adorava: «Led Zeppelin», «Allman Brothers» e «Lynyrd Skynyrd».

Se nunca viram, procurem ver e deliciem-se com esta carta de amor de Cameron Crowe ao Rock and Roll.

“What do you like more about music?”

“Everything…”



sexta-feira, outubro 05, 2007

Jeff Buckley

Foi há já dez anos que desapareceu uma das melhores vozes do rock dos anos 90.
O cenário é a cidade de Memphis. Jeff Buckley e Keith Foti, amigo e roadie, caminham em direcção a um estúdio onde têm encontro marcado com a banda. Jeff, sempre desafiante, entra nas águas do Wolf River com a roupa vestida e as botas calçadas, apesar dos receios e avisos de Keith. Num rádio portátil pode ouvir-se «Whole Lotta Love» dos Led Zeppelin. Jeff Buckley entoa a letra em voz alta e brinca com a forma própria de Robert Plant cantar. Keith tenta afastar o rádio para evitar que seja danificado pelas ondas provocadas pelos barcos que por ali passam. Quando se vira, já não vê Jeff. Naquela altura só as luzes da cidade iluminam as tristes águas do Wolf River. O corpo de Jeff Buckley é encontrado seis dias depois. O homem que sabia demasiado acerca da vida e do amor havia sucumbido prematuramente de forma trágica e tornava-se num mito para uma geração.

Jeff é filho de Tim Buckley, músico folk que abriu os braços ao jazz e que abandonou Jeff quando este tinha ainda poucos meses. Tim viria a falecer quando Jeff tinha oito anos por overdose de heroína. A sua mãe, Mary Guibert, era uma pianista e violencelista com formação clássica. Jeff cresceu rodeado de músicos e aprendeu música de forma autodidacta desde que descobriu a guitarra da sua avó quando tinha apenas cinco anos. Desde cedo começou a ouvir Led Zeppelin, Jimi Hendrix e The Who e compôs a sua primeira canção aos treze anos.
Estudou no Musician`s Institute de Los Angeles. Desde que saiu de casa aos 17 anos, passou por diversas bandas de rock antes de começar uma carreira a solo, chamando a atenção do público pela primeira vez num tributo ao seu pai. Assina contrato com a Columbia Records e “Grace” é editado em 1994 tendo excelentes críticas junto da imprensa especializada. Visto como ambicioso por uns, obra de génio por outros, mas fundamental para deixar o nome de Jeff Buckley entre os mais influentes da música de 90. Tudo devido à sua composição e interpretação singulares e pela originalidade descoberta na confluência de referências que apresentou a uma geração que as desconhecia. Buckley viria a desaparecer em 1997, quando trabalhava no seu segundo álbum, que nunca conseguiria terminar. As canções inacabadas foram editadas num álbum duplo pela sua mãe com o título “Sketches(For My Sweetheart the Drunk)” em 1998. Continuaram depois a editar álbuns póstumos com material recuperado de concertos e gravações privadas. A vida e carreira de Jeff Buckley, vão ser imortalizadas no cinema sob o título "Mystery White Boy" e está previsto que chegue às salas em 2009.

Aqui fica a homenagem a este grande músico, que com um disco apenas conseguiu consagrar-se como uma das vozes dos anos 90 e que continua a conquistar fãs, dez anos após a sua morte.

P.S. Não consegui colocar aqui alguns dos clips dos singles, porque a SONY não permite que sejam visionados fora do Youtube... Podem ver apenas o vídeo oficial de "Last Goodbye" e o resto são actuações ao vivo e tributos de fãs.