sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford


Não é todos os dias que nos chega um filme como “O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford”, a segunda obra de Andrew Dominik.
Cruel assassino para uns, herói popular para outros, Jesse James é, aos 34 anos, um carismático criminoso acusado de ter morto pelo menos 17 pessoas. Em 1881 a maioria do gang original de Jesse James encontra-se morta ou presa. Para os seus golpes, Jesse e o seu irmão Frank recrutam os irmãos Ford: Charley e Robert, um ambicioso jovem de 19 anos que idolatra (e inveja) James...
Embora o filme não seja de um todo um veículo para os seus protagonistas, as prestações de Brad Pitt e Casey Affleck são tudo menos secundárias. Brad Pitt consegue compor um Jesse James de uma ambiguidade misteriosa, entre o cruel e o atencioso, o violento e o terno. Uma figura maior, que recordamos pela postura serena no mal e no bem. Já Casey Affleck é o actor do filme, que certamente revelará ao mundo o excelente actor que ele é. O seu Robert Ford é magnífico, acompanhando Jesse com um olhar embevecido e um sorriso lânguido, com um misto perfeito de ódio e amor. A sua expressividade é impressionante, sobretudo nos grandes planos.
A começar nas interpretações, passando pela realização e terminando na fotografia, O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford tem todos os condimentos para ser um dos melhores do ano. Quem tiver o intuito de ver o filme, por favor, não pense que vai visualizar muitas cenas de grande acção ou grandes perseguições, pois isso não se sucede. O olhar de Dominik incide nos mais pequenos pormenores, fornecendo ao espectador uma visão extraordinária sobre todos os elementos em cena, naquele que é um dos melhores exercícios dos últimos tempos sobre a importância do ambiente. A câmara demora-se, convida o espectador à contemplação. Dominik não tem qualquer problema em atrasar a acção, só para que possamos entrar na pele dos intervenientes. Esta película conquistou assim duas nomeações para os Óscares da Academia: para Melhor Fotografia (realmente notável do talentoso Roger Deakins) e, claro, para Casey Affleck na categoria de Melhor Actor Secundário (que vai competir com Javier Bardem, que tem açambarcado todos os prémios com o seu trabalho em No Country For Old Men).

Deslumbrante western que não o é, e um filme biográfico que está longe de o ser. Antes uma visão poética de um acontecimento marcante que recorre a imagens deslumbrantes, íntimas e intensas, e a interpretações notáveis. Como uma evocação do estreito elo entre crime e fama, esta película faz uma observação histórica da cultura americana e da sua obsessão com a celebridade. A forma: visualmente arrebatadora.






P.S. Esta é a altura em que os melhores filmes do ano chegam a Portugal. E todos ao mesmo tempo... Podemos encontrar nas salas nacionais Sweeney Todd de Tim Burton (Charlie e a Fábrica de Chocolate, Eduardo Mãos-de-Tesoura), Expiação de Joe Wright (Orgulho e Preconceito), No Vale de Elah de Paul Haggis (Crash), The Darjeeling Limited de Wes Anderson (Life Aquatic), Jogos de Poder de Mike Nichols (Closer) e O Lado Selvagem do conhecido Sean Penn. Nas próximas semanas, vão estrear aqueles que são, para mim, os filmes mais esperados do ano: There Will Be Blood de Paul Thomas Anderson (Magnolia, Boogie Nights) e também No Country For Old Men dos irmãos Coen (Fargo,The Big Lebowski). Outras estreias aguardadas são Michael Clayton do estreante Tony Gilroy, The Savages de Tamara Jenkins e do muito elogiado Juno, que eu já tive oportunidade de visionar...

Como podem ver, há neste momento películas de boa qualidade para todos os gostos. Com tempo, irei falar daquelas que já me passaram pelas mãos.

Saudações de Um Comparsa

7 comentários:

Mohammed Saeed Al Sahaf disse...

Aposto que nenhuma destas películas irá passar no São Luís. Lá teremos que ir ao estrangeiro...
Ainda não vi o filme em destaque.
Seja bem vindo no seu regresso à Cidade Falcão.

Saudações de um Comparsa

Augusto disse...

Já te deves ter esquecido como foi o último filme que vimos no S. Luís (por acaso, um belo filme, Munich do Spielberg), 2 ou 3 gatos pingados e a putalhada na galhofa o filme inteiro.
Aqui só filmes infantis ou comédias parvas, de resto, não vale a pena... É triste, mas é assim.

Falando de comédias, esta foi para mim a melhor de 2007: http://www.youtube.com/watch?v=MNpoTxeydiY

É sobre adolescentes, mas não é nada parva e tem grandes momentos...

Saudações e Bons Filmes

Ariadne disse...

Como ainda não vi o filme, e já nem me lembro da última vez que fui ao cinema, só posso dizer: mais um filme que eu quero ver... Talvez em Março consiga...

Muito obrigada pelas sugestões!

Saudações de uma comparsa*

Davidoff disse...

Ora bem tb ainda não vi o filme, no entanto, já tive oportunidade de ouvir várias críticas e todas elas falavam bastante mal, do filme em geral, salvo raras categorias. Por um lado até percebo, mas quem é que se lembra de intitular o filme de "O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford"?? Quer dizer mais um bocadinho e contávamos o argumento todo no título!!

Davidoff disse...

ou então com um pouco mais de descrição do tipo " O Assassínio do Guna Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford,72 Kg, 1.80 m de altura, Filho de Jessica e John Ford" lololol

Augusto disse...

Acho que no post ficou bem explícito que este não é um filme para todos... Sendo Jesse James uma figura popular da história dos States (uma espécie de Robin Hood), já foi interpretado no cinema dezenas de vezes e a sua biografia é sobejamente conhecida. A força deste filme não reside na sua história, mas sim na maneira como é contada...
Não esperem acção nem twists no argumento porque isso não acontece. Esperem um filme lento com belos diálogos interpretados por bons actores. Esperem paisagens deslumbrandes captadas por uma fotografia espectacular...
Acho que tudo isso está bem patente no trailer...

Saudações

Ariadne disse...

É muito parado, é verdade! Não tem acção! O que me obrigou a ver o filme por partes.

Mas é um grande filme. Belíssima fotografia. Grandes interpretações e planos de imagem filmados com arte, muita arte.