sexta-feira, maio 28, 2010

Europa, querida Europa


Segundo a mitologia grega, Europa era uma jovem princesa, filha de Agenor, rei da cidade de Sídon ou de Tiro, antiga cidade fenícia no Líbano. Um dia brincava com as suas companheiras na praia, quando Zeus a viu. Zeus, apaixonado pela sua beleza, transformou-se num touro de resplandecente brancura e cornos semelhantes a duas luas na fase de quarto crescente. Aproximou-se da jovem e deitou-se aos seus pés. Primeiro, Europa assustou-se, mas rapidamente tomou coragem e acariciou o animal, sentando-se sobre o seu dorso. De imediato, o touro levantou-se e correu em direcção ao mar, avançando por entre as vagas e afastando-se da margem...
Raptada por Zeus e depois de ter atravessado o Mediterrâneo, Europa chegou a Creta e aí ficou para sempre, dando o seu nome ao novo continente. Acabou por se apaixonar por Zeus e dessa união nasceu Minos, o lendário rei de Creta, pai de Ariadne.
Foram feitas muitas representações iconográficas do rapto de Europa. Este episódio foi, aliás, escolhido para decorar a moeda grega de 2 euros. E, além disso, serve de mote à canção Europa, querida Europa de Fausto, apresentada no vídeo abaixo.


Antes de começar a escrever este artigo, tinha em mente fazê-lo sobre o Fausto (de raízes beirãs, mais propriamente de Vila Franca das Naves). No entanto, parece-me que o Fausto dispensa apresentações. Pelo menos devia..., uma vez que é um dos melhores músicos portugueses, ainda que seja tão pouco reconhecido pelo nosso público. Na verdade, não tem o reconhecimento que merece.
Decidi então prestar uma pequena homenagem a este grande escritor de canções. Prova disso é, sem dúvida, esta Europa, querida Europa...
Saudações de uma comparsa!
Bibliografia: GRIMAL, Pierre - Dicionário da mitologia grega e romana. Algés: Difel, 1999. Iconografia: RUBENS - O rapto de Europa.

terça-feira, maio 11, 2010

11.º Festival Intercéltico de Sendim

Caros comparsas,
Já está disponível o cartaz do Festival Intercéltico de Sendim de 2010:


Saudações de uma comparsa!

terça-feira, maio 04, 2010

Ágora, de Alejandro Amenábar


O filme Ágora de Alejandro Amenábar recria minuciosamente um dos períodos mais importantes da história da humanidade: a expansão do cristianismo. Na antiga cidade de Alexandria coabitam três religiões: o paganismo, o cristianismo e o judaísmo. E se hoje podemos assistir ao mau estar criado pelas diferentes religiões espalhadas pelo mundo, imaginem o ambiente vivido no séc. IV na cidade de Alexandria... É difícil de imaginar, de facto. Mas também não é necessário, porque o filme Ágora recria fidedignamente esse período.
O filme mostra-nos o confronto entre a antiga religião do império romano, devota aos vários deuses, e o cristianismo; a afirmação do cristianismo como nova religião; a perseguição aos judeus; o descrédito da ciência em favor da religião; a destruição da biblioteca de Alexandria, com os livros antigos, em formato de rolo, queimados, uma vez que estes eram considerados símbolos e veículos da cultura e da religião pagã; e, fundamentalmente, o desvirtuamento da condição e do estatuto social da mulher, através da figura central do filme: a filósofa Hipátia, excepcionalmente protagonizada pela actriz britânica Rachel Weisz.
Hipátia foi uma filósofa extremamente importante. Sempre à frente do seu tempo, lutou para unir a humanidade, convicta naquilo que mais defendia: a ciência. Não obstante, acabou por ser contestada pelos cristãos, fiéis leitores e seguidores da Bíblia: «Então descobri que a mulher é mais amarga do que a morte, porque ela é uma armadilha...» (Eclesiastes 7, 26); «Foi pela mulher que começou o pecado e é por culpa dela que todos morremos» (Eclesiástico 25, 24); «Eu não permito que a mulher ensine ou domine o homem» (Timóteo 2, 13).
Ágora recria assim, historicamente, os últimos anos da filósofa Hipátia e retrata tempos de intolerâncias religiosas e de escassa liberdade de expressão. Como refere o realizador, «o filme é contra a intolerância e alerta para aqueles que, nos dias de hoje, ainda estão dispostos a matar pelas suas ideias».
De salientar o trabalho de recriação e caracterização da época. Podia chamar a atenção para muitos pormenores, chamo especificamente para o uso das antigas tabuinhas de cera, suporte de escrita usado logo na primeira cena com a filósofa, onde podemos ver os seus alunos a tomar anotações nesse suporte; também de realçar o antigo formato do livro antigo a ocupar as estantes da biblioteca de Alexandria: o rolo. O único formato do livro actual que aparece no filme é a Bíblia e, na verdade, os cristãos foram de certa forma responsáveis pela expansão deste novo formato, em detrimento do rolo, visto como símbolo da cultura pagã.
É tradição deste blogue elegerem-se os melhores filmes de cada ano. Não foram eleitos ainda os de 2009, mas eu atrevo-me a apontar este como um dos melhores, sem dúvida. Para quem ainda não teve a oportunidade ou a curiosidade de ver, aconselho vivamente.


Saudações de uma comparsa!