sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Atonement - Expiação


Este filme, estreado entre nós durante o mês de Janeiro, é um bom exemplo da bela colheita cinematográfica deste ano.
Primeiramente apresentado no Festival de Veneza, o novo filme de Joe Wright (que nos trouxe em 2005 uma nova versão de “Orgulho e Preconceito”) é um dos grandes filmes deste novo ano, e ganhou o Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme em Drama. Não há razões para menos, pois estamos perante um título de enorme poder visual e força narrativa, bem servido de excelentes interpretações.
Baseado no aclamado romance de Ian McEwan, Joe Wright agarra todo o potencial desta obra literária, e transforma-a num filme possuidor de uma qualidade temática invejável, muito bem complementada pela sua segura realização, vestida de momentos artísticos de grande relevância.
“Atonement” é um drama familiar e romântico que a dada altura se cruza com o filme de guerra e que mantém uma certa aura que apetece classificar como “clássica” mas que não o é de todo. Em termos narrativos, “Atonement” é muito menos linear do que seria previsível neste tipo de filmes. O tempo é bastante fragmentado, com vários flashbacks que repetem a mesma acção de perspectivas diferentes. Mas comecemos pelo princípio. "Atonement" tem dois momentos bem distintos. Na primeira parte estamos perante um filme de época à "Orgulho e Preconceito". Aqui deparamos-nos com as inquietações sociais de uma família da alta sociedade britânica. É tudo muito bem filmado e os cenários e a fotografia são exemplares. Depois entramos em algo que toca no campo da tragédia épica em tempos de guerra. Uma espécie de "Paciente Inglês", magistralmente filmado e interpretado e com um desfecho poderoso que vem dar todo um novo sentido à primeira parte.
Toda a narrativa é construída sobre personagens de enorme peso humano, e Keira Knightley volta a demonstrar o porquê de ser uma das mais importantes actrizes da actualidade, acompanhada do sólido James McAvoy (que alguns conhecerão da excelente série britânica “Shameless” da SIC Radical ou de O Último Rei da Escócia), um condenado inocente que carrega em si um pecado que não lhe pertence.
Dotado de uma experiente e inteligente realização, uma montagem carregada de suspense, um argumento excepcionalmente bem escrito e de prestações bem conseguidas, “Atonement” é desde já um dos grandes acontecimentos de 2008, onde há ainda lugar de destaque para a fabulosa banda sonora de Dario Marianelli, e para a fotografia de Seamus McGarvey, que capta tão sobriamente a ténue linha entre a esperança e o medo que as imagens nos revelam. Um pequeno conselho: estejam atentos a uma verdadeira lição de "como realizar um épico", no momento em que McAvoy chega à praia francesa de Dunquerque.
Numa semana como esta, tenho que referir as sete nomeações para Óscar que esta película arrecadou, incluindo Melhor Filme. É um filme que aconselho vivamente, que pode não ficar nos vossos preferidos (não ficou nos meus...), mas que toda a gente deve ver, pois isto é bom cinema!




2 comentários:

Mohammed Saeed Al Sahaf disse...

Então este ganhou o óscar de melhor banda sonora. É já uma boa razão para ver ou ouvir.

Saudações de um Comparsa

Mohammed Saeed Al Sahaf disse...

A banda sonora está de facto fantástica. Aquele momento na praia francesa em que a orquestração se envolve e harmoniza os cânticos dos soldados ingleses está genial. No entanto o filme peca pela perda de poder narrativo no segundo momento do filme, embora todo o esclarecimento final daquela que acaba por ser a protagonista e dinamizadora da história esteja original. Resumindo, encontramos em Atonement o mais belo pedido de desculpas da história do cinema. Para quem não viu, estejam atentos ao papel que a máquina de escrever assume no desenvolvimento da música.

saudações de um Comparsa