terça-feira, novembro 20, 2007

Control

Estreou em Portugal na passada quinta-feira, dia 15, a tão esperada película "Control", acerca da vida de Ian Curtis, vocalista e líder da mítica banda de Manchester dos anos 80, Joy Division.

Anton Corbijn transportou para a tela, a história biogáfica de Ian Curtis, baseada na biografia, "Touching From A Distance", escrito pela viúva do líder da banda, Deborah Curtis, passados 15 anos após o seu trágico suicídio.


Para poder transmitir a carga emocional e a atmosfera misteriosa, encantadora e poética que envolve esta mítica personagem do rock (se assim lhe quiserem chamar), há que transportar o leitor umas décadas atrás, à cidade de Manchester, em Inglaterra.

Em 1977 , Manchester era uma cidade cinzenta, essencialmente industrial e de paisagem claustrofóbica, onde já fervilhava a vanguarda que iria herdar o punk e trazê-lo de volta ao mundo no formato new-wave.

No mesmo ano actua no Electric Circus, a banda que viria a ser a futura Joy Division, mas que na altura subia ao palco sob o nome de Warsaw (nome esse, retirado da música “Warszawa” do LP “Low” de David Bowie). Os elementos da banda apresentavam-se de cabelo curto, camisa abotoada e dentro de umas calças pretas à anos 40 – uma imagem consideravelmente invulgar, contrastando com as jeans rasgadas e o spiky-hair de uns Sex Pistols- (relembro o leitor que no ano de ’77 eclodia o punk-rock na capital inglesa.)

Em 1978, a banda toca no Factory Club, (onde nasceram os controversos Happy Mondays), do famoso e recentemente falecido jornalista Tony Wilson, que foi o responsável pela divulgação do punk/ new wave inglês, e apresentador do lendário programa “So It Goes”, onde se estrearam diversas bandas da época como os Buzzcocks. (Para os leitores interessados na história do Factory Club e das bandas que por lá passaram aconselho o fantástico filme, “24 Hours Party People”.)

Depois desta actuação que mostrava mais uma banda vulgar, os Joy Division trabalharam imenso o seu som e performance: Peter Hook e Bernard Sumner tornaram os gemidos das suas guitarras numa melodia que havia de se tornar a base e o ex-líbris da sua música, acompanhados pelas batidas distantes e secas de Stephen Morriss e pelo romantismo original e intimista da voz de Curtis. O mito tinha acabado de nascer e ninguém imaginaria o que estava para acontecer.

Após travarem conhecimento com o genial produtor Martin Hannett, lançam o primeiro LP “Unknown Pleasures”, recebido de forma brilhante pela imprensa e que fez catapultar a banda do anonimato para a estante das bandas de culto de Inglaterra.

Tornavam-se um culto e uma moda para os meios estudantis. Em 1979 saêm os singles que ainda hoje ecoam em qualquer bar de “rock”: “Transmission” e “Atmosphere”, (cujo videoclip também fora realizado por Anton Corbijn).

Miguel Esteves Cardoso, (que na altura se encontrava a estudar em Manchester e que colaborava e escrevia para a revista “Música e Som”) diz-nos: “Ao vivo, os Joy Division tinham sobretudo a força da sua convicção incrível – aquela soturnidade introspectiva, a loucura demasiado franca de Ian Curtis, e, acima de tudo, a sensação de solidão da banda (em relação ao público e, depois, a tudo) eram demasiado fortes para serem assimiladas como um mero e divertido espectáculo Rock.” (in Escrítica Pop, de M.E. Cardoso).

Em vésperas de uma tourné pela América, Curtis é encontrado pela sua mulher ajoelhado no chão da cozinha de sua casa em Macclesfield com uma corda ao pescoço. Era 18 de Maio de 1980 e cumpria-se assim o mito romântico do artista/herói perturbado: mais uma morte prematura na cultura rock.

O resto explica-se facilmente. Nascem os New Order como a banda órfã de Curtis, vingando a sua música na cena electrónica que desabrochava nos anos 80, com a entrada em força dos sintetizadores na criação de sons e batidas.


Regressando ao filme “Control”, este ilustra a preto e branco o percurso de Ian Curtis desde a sua juventude em que sonhava ser um Bowie ou até mesmo um Morrisson até ao dia 18 de Maio de 1980. Não se desanimem os leitores pelo facto de eu poder ter estragado qualquer efeito surpresa do filme! Pois esta película não se trata de contar uma história, pois essa já toda a gente a sabe!, mas sim, ilustrar e documentar para a prosperidade o “mito Ian Curtis” e relatar/ desvendar o que atormentou o vocalista que dividia o seu amor por duas mulheres.(!)

Do ponto de vista pessol, e como é óbvio, adorei o filme. Apesar de já saber o que esperar da história entrei na sala ansiosa e saí de lá abatida. Inevitável. Corbijn fez um excelente trabalho e adorei o facto de ter optado por uma tela a preto e branco, remetendo-nos naturalmente para uma história do “passado”, escondida e cheia de “pó”. É um filme arrepiante e tenso , em que por vezes o humor por parte das personagens da banda, nos descontrai momentaneamente.

Para os fãs da banda é um filme imperdível, obrigatório e essencial. Para os desconhecedores da banda é um filme que vale a pena e que mesmo assim é capaz de vos prender, tocar e fazer apaixonar.

O rock perdeu muito cedo um dos seus mais belos príncipes. É um reinado que irá continuar (será que ainda continua?), mas nunca mais será (/foi) o mesmo.


9 comentários:

(a)Mora disse...

Bom texto :) *

Augusto disse...

Isto sim é uma fã! Este biopic tem sido bastante elogiado pela crítica e ganho prémios em diversos festivais. Eu quero ir ver e pode ser que a música dos rapazes me passe a agradar mais... Aposto que tu não te importas de ir ver comigo!

Saudações de um Comparsa

psycho killer disse...

por acaso vou vê-lo hoje outra vez com a autora do comentário aí acima! :P

Ariadne disse...

Eh-Eh!

Eu confesso que não sou uma grande apreciadora da música dos Joy Division, mas também não conheço o suficiente para poder dizer se gosto ou não. De qualquer forma, parece-me que esta é uma boa oportunidade para ficar a conhecer melhor... Como já não vou há muito tempo ao cinema, é uma óptima ideia.

Obrigada pela sugestão.

Saudações de uma Comparsa*

Hugo disse...

Grandes Joy division. Eu desconfio ter sido feito ao som deles...
De certeza que o mito não teria começado não fosse o suicidio do Ian. Já agora deixo presente aos leitores a informação de que só depois da morte co Curtis a banda entrou nos top 10 de vendas em Portugal, o que não interessa para nada, a não ser para verificar o comportamento das massas em relação à morte de um artista.
Ainda não fui ver o filme, mas irei certamente.
SAudações

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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http://sol.sapo.pt/Blogs/musicando/default.aspx

Saudações Pinhelenses

Carla disse...

Os meus sinceros votos de BOAS FESTAS.
Espero que o Pai Natal seja generoso e que distribua muito amor, paz, saúde e carinho.

Mil Beijos ≈©≈♥Ňąd¡®♥≈©≈

Anónimo disse...

Mais de que isto é muito difícil dizer. Isto diz tudo ou quase tudo:

O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa


Festas Felizes para todos
São os votos de, http://pinhelviva.blogspot.com(Pinhel Nós por Cá)