Zabranjeno Pusenje na antiga língua servo-croata, nasceu na cidade bósnia de Sarajevo há 27 anos uma das mais hilariantes bandas da actualidade. Tendo sido desde o início uma banda irreverente e intervencionista que se apoiava na satirização dos políticos jugoslavos da era pós Tito, os The No Smoking Orchestra apadrinham em 1986 o elemento que posteriormente os catapultou para a fama e reconhecimento internacional: o realizador Emir Kusturica. Sem dúvida uma união perfeita já que participaram na banda sonora do filme "Gato Preto, Gato Branco" e compuseram a banda sonora do filme "A Vida é um Milagre" ,ambos realizados por Kusturica. Unindo a música tradicional cigana dos balcãs a uma espécie de rock/punk, os The No Smoking Orchestra fazem dos seus espectáculos ao vivo uma verdadeira paródia, contagiando toda a plateia com a sua originalidade, loucura, boa disposição e sentido de humor. Liderada pelo irreverente vocalista Dr. Nelle Karajlic, a banda conta ainda, para além de Emir Kusturica, com o compositor e virtuoso violinista Dejan Sparavolo, e reúne ainda sonoridades de instrumentos como o acordeão, o saxofone, o sousafone. Para ver e ouvir dia 25 de Janeiro no Coliseu do Porto e dia 26 de Janeiro no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Fiquem com alguns vídeos.
No tão ansiado regresso desta rubrica, apresento três propostas completamente distintas da nova música portuguesa. Espero que gostem...
Sean Riley & the Slowriders
Este grupo conimbricense lançou no final de 2007, “Farewell”, o seu álbum de estreia. A força de Sean Riley & the Slowriders resulta da perfeita junção do próprio Sean Riley (voz e guitarra) com Bruno Simões (baixo) e Filipe Costa (órgão, harmónica e bateria). Sean Riley, um songwriter com uma maturidade invulgar para um estreante, coloca a força da sua composição na simplicidade das letras, nas guitarras acústicas e na intensidade dos elaborados arranjos criados pelos Slowriders. Baseando-se num estilo Folk-Rock, existiram desde logo associações imediatas a Bob Dylan, Tim Buckley e Leonard Cohen. “Farewell” é um disco coeso e inspirador onde todos os instrumentos parecem estar no lugar certo, o que nos vai fazer seguir este grupo com muita atenção nos próximos tempos.
Slimmy
Slimmy é o projecto do portuguêsPaulo Fernandes. “Beatsound Loverboy”, o seu primeiro álbum, tem ambição internacional e um som que de lusitano tem apenas o bilhete de identidade. Slimmy é natural do Porto, mas criou em Londres a sua maqueta de apresentação e que por sua vez conseguiu notoriedade por parte da imprensa Inglesa. Na sua primeira aventura discográfica, Slimmy explora o seu mundo distorcido e louco de tensão sexual e amorosa, com vocalizações estridentes e o uso de falsete, batidas explosivas e guitarras cheias de raiva. Uma mistura que combina estilos como o electro, rock, disco, house, techno e pop. Slimmy já conseguiu chamar a atenção de alguns meios norte-americanos tendo um tema na banda-sonora da série CSI Miami.
Donna Maria
Donna Maria são um trio da grande Lisboa com fortes influências da música electrónica e uma alma profundamente portuguesa bem patente no recurso a instrumentos tradicionais, como a guitarra portuguesa ou o acordeão. “Música para ser Humano" é o seu segundo álbum e marca a sua entrada numa editora multinacional. Autores de uma música onde fado e pop se confundem, os três músicos são acompanhados por convidados como Rui Veloso, Raquel Tavares, Rão Kyao, Júlio Pereira e Luís Represas. A voz é um importante trunfo dos Donna Maria, Marisa Pinto canta em português de maneira cativante e convincente. É uma vocalização que combina na perfeição com a junção de ambientes sonoros electrónicos com arranjos tipicamente lusos que só a guitarra portuguesa e o acordeão conseguem transmitir.
Com este seu novo filme, o realizador David Cronenberg prova que está em grande forma e prolonga o estudo sobre a violência iniciado com o igualmente extraordinário “Uma História de Violência”. Sempre com uma forma muito própria de contar a história, Cronenberg manteve o estilo neste filme. Focalização nas relações humanas, ética, honra e violência explícita.
A história situa-se na Londres dos dias de hoje e gira em torno de Anna Khitrova (Naomi Watts), uma parteira que socorre uma jovem de Leste que morre ao dar à luz. Decidida a encontrar a família da criança, Anna segue o rasto do diário que ela deixou e de um cartão encontrado no seu interior o que a conduz a um restaurante tradicional russo. Porém, vê-se subitamente envolvida numa rede de criminalidade em que todos usam máscaras para esconder a verdadeira identidade. E é aqui que Anna se cruza com o misterioso Nikolai Luzhin (Viggo Mortensen), o motorista de uma das mais famosas famílias do crime organizado de Londres, com origem na Europa de Leste. A partir deste momento, várias vidas ficam no fio da navalha, numa angustiante cadeia de crimes e enganos que se desenrola através dos mais negros recantos desta família e da própria cidade de Londres.
É a história mais simples e violenta dos últimos tempos, mas é também bela e uma lição de perfeição absoluta nos mais variados níveis: realização, argumento e interpretação. Os actores estão soberbos, dos principais aos secundários e Viggo Mortensen tem aqui, provavelmente, a melhor interpretação da sua carreira, construindo uma personagem de carácter indefinido, abstracta, que ao circular entre os dois mundos, acaba por misturar comportamentos e sentires numa vertiginosa descida aos abismos da alma humana.
Há imagens e cenas em”Eastern Promises” que tão cedo não esquecerei e ainda bem que assim é, destacando-se a sequência da luta na sauna que é tão explicitamente brutal, como recheada de humor negro e brilhantemente filmada. Cronenberg no seu melhor, num dos melhores filmes dos últimos tempos.